NOMES PRÓPRIOS

NOMES PRÓPRIOS

23/08/2020 5 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 22/08/2020.

 

Nome próprio é “um substantivo que distingue e identifica algo de forma específica, como uma pessoa… Quando o nome próprio se refere a uma pessoa, é chamado de antropônimo.”[1]

 

Por aqui, nos primórdios do Tem Música Pra Tudo, falamos de músicas feitas para “mulher com nome próprio”, na ocasião citei, dentre outras, Luíza, Terezinha, Bárbara, Marina, Gabriela, Dora, etc.[2]

 

Embora algumas dessas mulheres que viraram música sejam pessoas reais, muitas delas só existem ou existiram no imaginário dos compositores. Hoje, porém, quero falar de músicas sobre homens que, comprovadamente, existiram.

 

Rubin Carter, um boxeador norte-americano que chegou a ser o quinto melhor do mundo na categoria dos meio-pesados. Por causa de seu estilo agressivo e da potência de seus socos, ganhou o apelido de Hurricane (Furacão).

 

Na madrugada de 17/06/1966 dois homens entraram em uma lanchonete de Paterson, Nova Jersey, e começaram a atirar. Atingiram quatro homens, dois morreram na hora, um outro morreu um mês depois, e o quarto perdeu a visão de um dos olhos mas sobreviveu. Duas testemunhas (Pauline Valentine e Al Bello) afirmaram que os atiradores fugiram em um carro branco.

 

Na mesma madrugada Hurricane e seu sobrinho voltavam de um bar nas proximidades. Estavam em um carro branco, foram parados pela polícia.

 

Hurricane e seu sobrinho não foram jamais reconhecidos pelos sobreviventes da lanchonete. A arma do crime nunca foi encontrada.  As autoridades não se deram ao trabalho de fazer o teste, então já disponível, que detecta resíduos de pólvora na pele de suspeitos.

 

Mesmo assim, Hurricane e seu sobrinho foram presos, julgados e condenados à prisão perpétua.

 

Ah, ia esquecendo de um detalhe: Hurricane e seu sobrinho eram pretos.

 

O julgamento foi cheio de outros furos, a começar pelo fato de que a testemunha Al Bello, na verdade, era um ladrãozinho conhecido na área, que com seu comparsa Arthur Bradley tinha acabado de furtar uma loja de ferramentas nos arredores. E, como se descobriu depois, trazia nos bolsos toda a grana do caixa da lanchonete!

 

Na prisão Rubin Carter escreveu um livro sobre o seu julgamento, chamado “The Sixteenth Round” (O 16º. Round). Baseado no livro, em 1975 Bob Dylan fez uma música para contar essa longa história.[3]

 

 

 

 

A música do Bob Dylan foi lançada em meio a muita mobilização popular para que Hurricane conseguisse um segundo julgamento. E ele conseguiu esta segunda chance em 1976, mas foi novamente condenado!

 

Depois de várias apelações e recursos, em 1985 um Tribunal Federal finalmente reverteu os julgamentos anteriores e libertou Hurricane. A esta altura o quase campeão do mundo já contava 48 anos de idade, 19 deles passados dentro de uma prisão.

 

Se você teve a paciência (e o prazer) de assistir o vídeo acima, deve ter se espantado com a capacidade do Bob Dylan decorar e cantar ao vivo uma letra tão longa.

 

Letras quilométricas são uma característica marcante das músicas de Bob Dylan, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2016.

 

O mesmo Bob Dylan é autor de um clássico chamado “The Times They Are a-Changin’”, em português, “os tempos estão mudando”. Não é o que parece.

 

Outro nome próprio que virou música foi um cara chamado Vital José de Assis Dias, o primeiro baterista de uma banda que você certamente conhece:[4]

 

 

 

 

Hurricane morreu em 2014, com 76 anos de idade. Vital morreu no ano seguinte, quando ia completar 55 anos.

 

A prisão injusta de Rubin Carter Hurricane. A liberdade de Vital sobre duas rodas.

 

Tem Música Pra Tudo.

 

[1] in https://pt.wikipedia.org/wiki/Nome_pr%C3%B3prio

[2] Veja em https://temmusicapratudo.com.br/2018/10/06/she/

[3] Bob Dylan, “Hurricane” (Bob Dylan, Jacques Levy) in The Legend, 1983.

[4] Os Paralamas do Sucesso, “Vital e Sua Moto” (Herbert Vianna) in Cinema Mudo, 1983.