MUSA

 

Escrito em 09/03/2024.

 

 

Frank Sinatra gravou esta música dos Beatles, e quando a apresentava ao vivo costumava dizer que aquela composição de Lennon e McCartney era a mais bela canção de amor dos últimos cinquenta anos.[1]

 

Sem dúvida ele estava certo em relação à beleza da música Something, só que o autor era outro Beatle, George Harrison.

 

Ele a compôs para sua esposa, a modelo Pattie Boyd:[2]

 

 

 

 

George Harrison e Pattie Boyd se conheceram na filmagem de “A Hard Day’s Night”, filminho dos Beatles gravado em 1964, onde ela fez uma ponta vestida de colegial dentro de um trem. Se apaixonaram, casaram em 1966, e ela acompanhou de perto toda a febre da beatlemania, o auge e a separação da banda.

 

O casamento durou até 1977. Desde muito antes Eric Clapton, amigo (mesmo!) do George Harrison se declarou para ela, e confessou este amor ao próprio George. Mas a Pattie fez jogo duro, era um amor impossível, e para ela Eric Clapton compôs em 1970 a música Layla – baseada em um conto árabe sobre um sujeito desesperado porque a mulher que ele amava, uma princesa, foi obrigada pelo pai a casar com outro.[3]

 

 

 

 

Por causa deste amor não correspondido Eric Clapton se afundou em heroína e álcool durante anos e quase morreu.

 

Mas ele era insistente, e em 1977 a Pattie largou o George e foi morar com o Eric Clapton, com quem se casou em 1979, ficaram juntos até 1989. Foi também para ela que o Clapton compôs a igualmente maravilhosa Wonderful Tonight, que você já ouviu aqui no TMPT.[4]

 

Something é a segunda música mais gravada dos Beatles, perdendo só para Yesterday (Sinatra gravou ambas).[5]

 

Layla foi considerada a melhor música do ano em seu lançamento (1970),  e mais de vinte anos depois, quando o Clapton gravou a versão acústica, ganhou o Grammy de melhor música de rock de 1993.[6]

 

Tanto Something quanto Layla estão na lista das “500 Maiores Canções de Todos os Tempos” da revista Rolling Stone (em 110º. e 27º. lugares, respectivamente).

 

É quase inacreditável que essas duas canções icônicas, compostas por dois dos maiores astros da história da música, tenham sido feitas para a mesma pessoa.

 

Pattie Boyd foi casada por cerca de dez anos com cada um destes astros. Ela também era fotógrafa, e o seu acervo, com inúmeras fotos e cartas dos dois “ex”, está para ser leiloado pela Christie’s, a mais antiga casa de leilões do mundo.[7]

 

Em minha opinião, só por ter inspirado esses caras, ela merece cada centavo dos milhões que vai arrecadar.

 

Antes que alguém a chame de oportunista, vale esclarecer que ela só se rendeu ao Eric Clapton, e abandonou o George Harrison, depois das inúmeras traições deste último, inclusive com a esposa de seu amigo e também guitarrista Ronnie Wood (que pouco depois se tornaria um Rolling Stone) e – esta foi a gota d’água – com a mulher de ninguém menos que Ringo Starr, seu companheiro de banda.

 

Não que isto tenha abalado as amizades. Se você fuçar no YouTube vai encontrar George e Clapton tocando Something juntos, e o George passou a chamar o Clapton de seu “husband-in-law” (algo parecido com “co-esposo”). Ringo e George foram ao casamento da Pattie com o Eric Clapton. E o Ronnie Wood, como sabemos, ama todo mundo e não briga com ninguém.

 

Eram os tempos da Swinging London, da minissaia (inventada ali por Mary Quant e cujo símbolo maior eram as supermodelos Pattie Boyd e Jean Shrimpton). Tempos de liberdade, paz, amor e sexo livre.[8]

 

Como na Quadrilha:[9]

 

 

 

 

 

[1] Veja em https://en.wikipedia.org/wiki/Something_(Beatles_song)

[2] The Beatles, “Something” (George Harrison) in Abbey Road, 1970.

[3] Eric Clapton, “Layla” (Eric Clapton, Jim Gordon) in Eric Clapton Unplugged, 1992.

[4] Relembre: https://temmusicapratudo.com.br/2023/09/30/um-belo-dia/

[5] https://en.wikipedia.org/wiki/Something_(Beatles_song)

[6] https://en.wikipedia.org/wiki/Layla

[7] Dê um lance: https://onlineonly.christies.com/s/pattie-boyd-collection/lots/3508

[8] https://pt.wikipedia.org/wiki/Swinging_London

[9] Francis Hime, “Quadrilha” (Francis Hime, Chico Buarque) in Francis ao Vivo, 2007.