SANGRANDO

Escrito em 17/06/2023.

 

 

    Semana passada li o livro sobre a menina que, aos 19 anos, fundou uma empresa “startup” para produzir em larga escala a sua invenção, um aparelho capaz de realizar centenas de exames com apenas uma gota de sangue. É o fim do exame tradicional com aquela agulhona extraindo ampolas e ampolas do precioso líquido.[1]

 

Com o genial invento basta uma picadinha no indicador, e com essa única gota é possível virar pelo avesso o paciente, mais de 200 análises podem ser feitas, e tudo isso ficando pronto em meia hora, em qualquer farmácia (no caso, a rede norte-americana de farmácias Wallgreens, que investiu mais de 140 milhões de dólares na ideia da garota).

 

Não só a Wallgreens, o mundo investiu na empresa (chamada Theranos), que em poucos anos alcançou o valor de US$9 bilhões de dólares (sendo a garota, Elizabeth Holmes, dona de 51% das ações, a mais jovem bilionária do mundo, capa de tudo quanto é revista).

 

Só que  engenhoca não funcionou, era tudo uma tremenda picaretagem, a moça enganou Deus e o Mundo (governos, políticos, megaempresários, a indústria farmacêutica, o Obama, os experts de Wall Street).

 

Resultado: a gênia condenada a onze anos de prisão (iniciou o cumprimento da pena no mês passado), e um monte de especialistas com cara de você sabe o quê.

 

“Sangue nos olhos”, “sangue do meu sangue”, “lavar a honra com sangue”, “sangue azul”, “o sangue de Jesus” quantas expressões criadas em torno deste líquido. E quanto fascínio também, Conde Drácula que o diga!

 

Drácula, personagem de Bram Stoker, foi o mais célebre dos Vampiros. Um Vampiro é “um ser mitológico ou folclórico que sobrevive se alimentando da essência vital de criaturas vivas (geralmente sob a forma de sangue), independentemente de ser um morto-vivo ou uma pessoa viva”[2].

 

Quase sempre é retratado como um ser sedutor, bonitão, poderoso, que usa todo este aparato para conquistar suas vítimas e chupar seu sangue. Mas ele tem lá seus dramas de consciência:[3]

 

 

 

 

Vampiro é muito chique, tenho mais simpatia pelo nosso Licantropo, também conhecido como Lobisomem, que segundo a Wikipédia também é chegado num sanguinho: “Em algumas regiões, o Lobisomem se transforma à meia noite de sexta-feira, em uma encruzilhada. Como o nome diz, é metade lobo, metade homem. Depois de transformado, sai à noite procurando sangue, matando ferozmente tudo que se move. Antes do amanhecer, ele procura a mesma encruzilhada para voltar a ser homem”[4].

 

Ele se caracteriza, quando na forma humana, pelos “comportamentos estranhos” e por estar “quase sempre com olhos cansados (olheira)”[5]. Quem se esquece do Professor Astromar Junqueira, da novela Roque Santeiro? Um personagem secundário, mas tão instigante que tinha uma música só pra ele:[6]

 

 

 

Fiquem espertos meus amigos, não se enganem: A Picareta que enganou Wall Street, o Conde Drácula, o Lobisomem, todos eles só querem uma coisa.[7]

 

 

 

 

Outros que também querem o seu sangue:

 

– a Fundação Pró-Sangue (esta merece): https://www.prosangue.sp.gov.br/home/

 

e

 

– o Professor Astromar Junqueira.[8]

 

 

[1] “Bad Blood – Fraude Bilionária no Vale do Silício” (John Carreyrou), Editora Alta Books, 2019.

[2] in https://pt.wikipedia.org/wiki/Vampiro

[3] Sting, “Moon Over Bourbon Street” (Sting) in Bring On The Night, Disco 2, 1986.

[4] in https://pt.wikipedia.org/wiki/Lobisomem

[5] idem

[6] Zé Ramalho, “Mistérios da Meia Noite” (Zé Ramalho), in De Gosto de Água e de Amigos, 1985.

[7] Titãs e  Jimmy Cliff,  “The Harder They Come” (Jimmy Cliff) / “Querem Meu Sangue” (versão Nando Reis), in Titãs Acústico MTV, 1997.  

[8] Da novela Roque Santeiro, da Rede Globo, exibida em 1985. Em cena os atores  Rui Rezende (o Professor),  Ary Fontoura e Eloísa Mafalda.