DISCOS

DISCOS

26/06/2022 7 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 25/06/2022.

 

 

Para quem não sabe, a cada ano o Tem Música Pra Tudo envia um CD para os seus mais fiéis e teimosos leitores contendo as músicas que integraram os textos do blog no período.[1] Por conta disto um queridíssimo e improvável leitor/ouvinte (de 19 anos!) me questionou outro dia: Por que o TMPT não tem uma playlist no Spotify?

 

A pergunta é pertinente, hoje as pessoas nem têm onde tocar um disco, CD, LP.

 

Não sou avesso aos avanços da tecnologia, muito ao contrário. Mas não estou preparado para abrir mão dos meus discos, já confessei aqui que sou muito apegado a eles.[2] É que um disco, um álbum, é muito mais do que as músicas nele contidas. Quem viveu a experiência de juntar dinheiro, ir à loja, comprar aquele disco, tirar da embalagem, colocar pra tocar enquanto lê o encarte, etc, sabe do que eu estou falando.

 

Os primeiros LPs, no formato que conhecemos, são da década de 1950, antes o que havia eram compactos, aqueles disquinhos com uma ou duas músicas. À medida em que foram ficando mais acessíveis e populares, os “álbuns” – como passaram a ser chamados os LPs – se tornaram verdadeiras obras de arte. A partir da década de 1960, o álbum “deixa de vez de ser apenas uma coleção de sucessos já lançados em compactos, para se tornar ele mesmo a obra fonográfica – um conjunto de canções, com parte gráfica, letras, ficha técnica, agradecimentos e um título, lançados por um determinado grupo ou intérprete”.[3]

 

Surgiram os álbuns conceituais, os discos com começo meio e fim, as capas históricas, como a do Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band dos Beatles (o primeiro a trazer as letras das músicas!).

 

O disco é um objeto tão precioso, tão importante, tão simbólico, que quando a Rainha da Inglaterra esteve por aqui em 1968 – ela mesma, a Elizabeth II que acabou de completar 70 anos de reinado – foi presenteada com LPs de Carmem Miranda, Noel Rosa, Jacob do Bandolim, Elizeth Cardoso.[4] E um disco do Alfredo da Rocha Vianna Filho, também conhecido como Pixinguinha, autor dessa música aqui:[5]

 

 

 

 

Ouvindo uma preciosidade destas dá pra entender o sujeito que, na separação, renuncia a tudo, deixa tudo pra ela, até a aliança (pra derreter ou empenhar), mas de jeito nenhum abre mão daquele disco.[6]

 

 

 

 

Alguns discos são tão icônicos que não precisam nem de nome. De novo o exemplo vem dos Beatles, com seu antológico álbum duplo cuja capa é totalmente branca, sem nada escrito – e por isso ficou conhecido no mundo todo como “o álbum branco”, onde o agora oitentão Paul McCartney gravou esta belezinha aqui:[7]

 

 

 

 

Embora seja tentador assinar um serviço tipo Spotify e com isto ter “todas as músicas do mundo”, prefiro continuar só com meus LPs e CDs, alguns deles tão intrincados na minha vida que não dá pra apenas ouvir, é preciso pegar na mão, abrir, ler, limpar, conversar.

 

Ter todas as músicas do mundo é como ter todo o dinheiro do mundo. À primeira vista parece ser o máximo, mas imaginem toda a M…. que vem junto.

 

Um exemplo: pesquisei agorinha quais são “as músicas mais tocadas/acessadas no Spotify em 2022″, e apareceu uma (a terceira colocada) cujo refrão é “Hoje a coisa fica séria / vai ser Tchuco-Tchuco nela”.

 

É um pouco demais para mim, principalmente considerando que acabei de ouvir a Rosa do Pixinguinha, no início deste texto.

 

Além do mais, como é que eu ia presentear a Rainha? “E aí Queen, me passa seu Whats que eu vou te mandar o link da minha playlist…”. Não dá, né?

 

Por essas e outras sigo feliz com os meus disquinhos, e fico mais feliz ainda em saber que não estou sozinho: “De acordo com o relatório anual da Recording Industry Association of America (RIAA), em 2021 a receita com vendas de CD atingiu US$ 584 milhões nos Estados Unidos, crescimento de 21% em relação a 2020. Foi o primeiro aumento desde 2004! É uma amostra que, na UTI, o formato ainda sobrevive”[8].

 

Uma última curiosidade: além de ganhar aqueles belos discos, Sua Majestade ainda assistiu a uma apresentação do Simonal, Jair Rodrigues e Elza Soares encerrada com os três cantando esta música do Zé Kéti, que você já ouviu por aqui em outra versão:[9]

 

 

 

 

Se é assinante do Spotify, você tem a música “Tchuco-Tchuco nela”. Bom proveito.

 

 

[1] Se quiser receber o seu, basta enviar um e-mail com seu nome e endereço para mpantoja@terra.com.br

[2] Relembre em https://temmusicapratudo.com.br/2019/10/26/perdas-e-danos/

[3] Leia em https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lbum

[4] Leia em https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/06/04/os-11-dias-da-visita-da-rainha-elizabeth-2a-ao-brasil-em-1968.ghtml

[5] Luiz Melodia, “Rosa” (Pixinguinha, Otávio de Sousa) in Luiz Melodia & Participações, 2014.

[6] Chico Buarque, “Trocando em Miúdos” (Chico Buarque, Francis Hime) in Chico Buarque, 1978.

[7] The Beatles, “Blackbird” (John Lennon, Paul McCarney) in ???? [álbum branco], Disco 1, 1968.

[8] Leia em https://exame.com/bussola/play-cd-aquele-velho-companheiro-musical-ainda-vive/

[9] D.Duda Ribeiro com Guga Stroeter & HB Orquestra, “A Voz do Morro” (Zé Kéti) – sem registro em disco (que eu saiba)!