RADIAÇÕES

RADIAÇÕES

26/09/2021 3 Por Marcelo Pantoja

 

Escrito em 25/09/2021.

 

 

Hoje, dia 25 de setembro, é o Dia Nacional do Rádio. Esta data foi escolhida por ser o aniversário de Edgar Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão no Brasil.[1]

 

Inventado pelo italiano Guilherme Marconi (há controvérsias)[2], o rádio se tornou o meio de comunicação mais abrangente e poderoso jamais visto até então. Por aqui a primeira transmissão foi em 07/09/1922 (um discurso do presidente Epitácio Pessoa), mesmo ano em que fundada a primeira estação de rádio do Brasil (Rádio Sociedade do Rio de Janeiro).[3]

 

Quando batalhava para trazer essa primeira emissora, Roquette-Pinto a idealizava como um grande instrumento voltado à educação do povo brasileiro. Mas com o passar dos anos o que prevaleceu mesmo foram os noticiários e o entretenimento.

 

Pelo rádio é que chegavam (antes de irem para os jornais impressos) as notícias vindas do mundo todo. Em torno dele as famílias se reuniam para saber da guerra na Europa, para se emocionar com as radionovelas e, claro, para ouvir música!

 

Mais que isto: ouvir música ao vivo, já que na “Era de Ouro” (décadas de 1930 a 1950) os artistas eram contratados das rádios, cantavam em auditórios lotados, de onde partia a transmissão para o mundo afora.

 

A concorrência era enorme entre as estações e entre os artistas, discussões acaloradas, havia eleições anuais (organizadas pela Revista do Rádio) para escolher a Rainha do Rádio – posto que foi ocupado, sucessivamente, por Linda Batista (dez anos seguidos!), Dirce Batista, Marlene, Dalva de Oliveira, Mary Gonçalves, Emilinha Borba, Ângela Maria, Dóris Monteiro e outras altezas.[4]

 

Pelo lado dos homens havia Orlando Silva (o Cantor das Multidões), Francisco Alves, Silvio Caldas. Mas quem ficou conhecido como o Rei do Rádio foi este senhor aqui:[5]

 

 

 

 

Em 30 de outubro de 1938 Orson Welles aterrorizou um país inteiro ao interromper a programação musical da Rádio CBS para noticiar que a cidade de Grover’s Mill, em Nova Jersey, estava sendo invadida por marcianos! Durante cerca de uma hora repórteres emocionados narraram “in loco” os acontecimentos. Ouviam-se os sons da invasão, Welles entrevistou especialistas (!) e autoridades. O pânico se espalhou, as pessoas se desesperaram.

 

Tudo de mentira! Orson Welles simplesmente narrou em tom jornalístico o enredo de uma obra de ficção de 1898 escrita por H.G.Wells (“A Guerra dos Mundos”).[6]

 

Na época com 23 anos, Orson Welles (que em seguida teria uma carreira de imenso sucesso como ator, escritor, dramaturgo, cineasta, produtor e agitador cultural) mostrava, já em 1938, a força e o perigo das fake news.

 

Não preciso dizer que tudo isto é muito-muito-muito anterior ao meu nascimento. Entretanto, mesmo sendo extremamente jovem, lembro de uma época em que as pessoas ligavam ou escreviam para a rádio e “dedicavam” uma música a alguém. Mais ou menos assim:[7]

 

 

 

 

Eu sou, desde criança, viciado em rádio. Curiosamente, não pelas músicas (as “minhas” músicas não costumam tocar na maioria das estações). Desde os seis ou sete anos era acordado pelo miado do programa “O Pulo do Gato”, que minha mãe fazia questão de ligar no último volume às seis da manhã, que era para ninguém perder a hora. Cresci ouvindo o jornalista José Paulo de Andrade (que hoje virou nome de rua!) dizendo: “pulando da cama gente, hoje é dia de batente”. Aquilo doía.

 

Desde então eu mantenho a tradição, e sigo ouvindo rádio durante boa parte da manhã. E o esporte? Como era bom ouvir os gols do meu time narrados por Fiori Gigliotti. Os narradores são outros, claro, mas ainda hoje nada se compara a ouvir aquele golaço pela rádio.

 

Como dizia o José Paulo, “o rádio é a TV com imaginação”. Adoro.

 

Por isto concordo plenamente com a homenagem do Queen:[8]

 

 

 

 

[1] in https://abert.org.br/evento/index.php/dia-nacional-do-radio

[2] in https://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%A1dio_(telecomunica%C3%A7%C3%B5es)

[3] in https://pt.wikipedia.org/wiki/Era_do_R%C3%A1dio

[4] in https://pt.wikipedia.org/wiki/Rainha_do_R%C3%A1dio

[5] Nelson Gonçalves, “Naquela Mesa” (Sérgio Bittencourt) in 50 Anos de Boemia, Vol. 1, 1997.

[6] in https://canaltech.com.br/entretenimento/precursor-das-fake-news-a-influencia-de-guerra-dos-mundos-sobre-as-nossas-vidas-173895/

[7] Blitz, “A Dois Passos do Paraíso” (Evandro Mesquita, Ricardo Barreto), in Blitz Ao Vivo, 1995.

[8] Queen, “Radio Ga Ga” (Roger Taylor), in Greatest Hits II, 1991.