THE VOICE

THE VOICE

13/02/2021 8 Por Marcelo Pantoja

 

Escrito em 13/02/2021.

 

 

Não, não se trata de um programa de televisão.

 

The Voice  (“A Voz”) era o apelido de Francis Albert Sinatra. Não era “uma” voz, “uma das melhores” vozes, ou “uma grande” voz. Ele era A voz, ponto final.

 

Se o cara é considerado “A” – artigo definido – voz, então não há o que discutir.

 

Amigo e admirador de Tom Jobim, com quem gravou um disco antológico em 1967[1], A Voz esteve no Brasil duas vezes, a primeira delas em 1980 para se apresentar no Maracanã diante de mais de 150 mil pessoas, naquilo que, em suas palavras, foi “o maior momento de minha vida como um cantor profissional”.[2]

 

Ouvir “The Voice” é sempre um prazer, não só por ela própria e pelo repertório delicioso, mas também porque a dicção perfeita do Sinatra faz a gente pensar que entende inglês com a naturalidade de um nativo (impressão que passa rapidinho se você escutar Mick Jagger logo em seguida).[3]

 

 

 

 

Cantores famosos geralmente estão vinculados por contrato a uma gravadora, e este é um relacionamento nem sempre muito tranquilo.

 

À custa de muita briga, advogados se digladiando e coisa e tal, em 1980 Chico Buarque conseguiu se libertar da gravadora Polygram, a quem acusava de censurá-lo, e assinou com a Ariola, onde no ano seguinte gravou o discaço Almanaque. Na ocasião aproveitou para espicaçar a Polygram com esta música:[4]

 

 

 

 

A ironia é que, mal o Chico acabou de gravar o disco na nova casa, a Ariola foi vendida. Para a Polygram![5]

 

Como vimos, A Voz é uma só.

 

Mas se ninguém mais pode ser “A” voz, sempre é possível ser a voz “de” alguém, de um lugar, de um grupo, de uma instituição, etc:[6]

 

 

 

 

Com seu inglês impecável você deve ter notado que no final do primeiro filminho deste texto o Sinatra diz que Antonio Carlos Jobim é um dos músicos mais talentosos que ele conheceu, e reclama que não consegue encontrá-lo.

 

Bem, eles se reencontraram em 1994, para gravar uma faixa do segundo álbum Duets (Duetos) do Frank Sinatra.

 

Na verdade foi um encontro virtual, cada um em seu estúdio a milhares de quilômetros um do outro. Jamais imaginariam que hoje em dia isto seria o “normal”.[7]

 

 

 

A gravação foi em agosto de 94, e no início de dezembro o nosso Tom se foi. Um novo encontro certamente aconteceu quatro anos depois, em maio de 1998, quando The Voice também nos deixou.

 

[1] Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, 1967.

[2] “… this is the greatest moment I have ever experienced in my life as a professional singer” (http://g1.globo.com/globo-news/videos/v/memoria-40-anos-do-show-de-frank-sinatra-no-maracana/8267016/)

[3] Frank Sinatra, “Quiet Nights of Quiet Stars” (Corcovado) (Tom Jobim, versão Gene Lees) in Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, 1967.

[4] Chico Buarque, “A Voz do Dono e o Dono da Voz” (Chico Buarque), 1981.

[5] Humberto Werneck in Chico Buarque Letra e Música, 1989, p.132.

[6] Luiz Melodia, “A Voz do Morro” (Zé Keti) in Mico de Circo, 1978.

[7] Frank Sinatra e Tom Jobim, “Fly Me To The Moon” (Bart Howard) in Frank Sinatra Duets II, 1994.