AI MEU SANTO ANTÔNIO!

AI MEU SANTO ANTÔNIO!

14/06/2020 6 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 13/06/2020.

 

Hoje é dia de Santo Antônio.

 

Não que eu seja um conhecedor do assunto, mas foi inevitável, ligo o rádio, estão falando de Santo Antônio, ligo a TV, a mesma coisa, na Internet idem. E as reportagens vão na mesma direção: comentam sobre a inviabilidade de Festas Juninas neste ano Covid e, principalmente, falam da capacidade do Santo de arranjar casamentos.

 

Fui pesquisar e descobri que, embora conhecido como Santo Antônio de Pádua, o danado é na verdade português. E nem Antônio ele era, seu nome de batismo é Fernando!

 

Tudo isto é de somenos, o que importa às moças, e às reportagens, é mesmo o poder de arrumar marido. E parece que, de fato, ele tem esta habilidade. Pesquisas mostram que o Santo geralmente traz o noivo.

 

Mas o Antônio-Fernando não garante a qualidade. Depois que o casal sai da igreja o problema não é mais dele:[1]

 

 

 

 

Tem Santo Pra Tudo, para proteger os olhos (Santa Luzia), os advogados (Santo Ivo), os animais (São Francisco de Assis), as domésticas (Santa Zita), os músicos (Santa Cecília), os engenheiros (Frei Galvão), os motoristas (São Cristóvão) etc etc etc. E tem aqueles de amplo espectro, como São Judas Tadeu (para as causas impossíveis) e Santo Expedito (para as causas urgentes).

 

O povo reza para os Santos, mas também briga com eles quando não é atendido, o que revela bem o caráter interesseiro do ser humano.

 

Veja que interessante este truque descrito por Luiz da Câmara Cascudo no Dicionário do Folclore Brasileiro, reproduzido no encarte do disco de 1989 do Chico Buarque:

 

“… Outro recurso muito eficaz, o mais eficaz de todos eles, consiste em ‘contrariar’ os santos… Em 1779 as imagens de Nossa Senhora da Conceição do Apodi e Nossa Senhora dos Impossíveis foram permutadas, vindo as duas em procissão… Caiu uma chuva tão forte que o vigário fez voltar as procissões para suas respectivas sedes… e brotou uma fonte d’água onde os dois andores defrontaram… A permuta de imagens não é privativa de rogação de chuva. Separar o santo de sua igreja, obrigando-o a fazer um milagre, é velha forma usual por onde o catolicismo mantém as formas mais doces e mais primitivas no espírito popular.”[2]

 

 

 

 

Legal, né? Mas não sei se é uma boa sacanear os santos desse jeito. Há quem diga que um dia todos eles vão se juntar e marchar em direção à Terra, vai saber se não vêm cobrar a conta…[3]

 

 

 

 

[1] Alcione e Chico Buarque, “O Casamento dos Pequenos Burgueses” (Chico Buarque) in Ópera do Malandro, 1979.

[2] Chico Buarque, “A Permuta dos Santos” (Chico Buarque, Edu Lobo) in Chico Buarque, 1989.

[3] Louis Armstrong, “When The Saints Go Marching In” (Tradicional) in Coleção Folha Clássicos do Jazz, Vol 01, 2008.