PEGANDO ONDA

PEGANDO ONDA

10/11/2019 7 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 09/11/2019.

 

Onda é um pulso energético que se propaga através do espaço ou através de um meio (líquido, sólido ou gasoso), com velocidade definida. Nada impede que uma onda magnética se propague no vácuo ou através da matéria, como é o caso das ondas eletromagnéticas no vácuo ou dos neutrinos através da matéria, onde as partículas do meio oscilam à volta de um ponto médio, mas não se deslocam. Ondas mecânicas são aquelas que se propagam somente em meios materiais e são governadas pelas leis de Newton, como as ondas oceânicas de superfície, que são perturbações que se propagam através da água. O movimento das ondas em oceanos e lagos/lagoas segue expressões matemáticas com base nas Leis da Mecânica Newtoniana. A equação de Schrödinger descreve o comportamento ondulatório da matéria na mecânica quântica. As soluções desta equação são funções de onda que podem ser usadas para descrever a densidade de probabilidade de uma partícula.[1]

 

Entendeu? Eu também não, estou só fazendo onda para introduzir a psicodélica Ripples do Genesis (abaixo em versão com Steve Hackett e Amanda Lehmann), anunciando que uma onda nunca volta, e por isso o reflexo do seu rosto na água vai embora para sempre, então você nunca mais será a mesma pessoa de hoje.[2]

 

 

 

 

Na contramão, em 1980 o Zé Ramalho compôs uma música falando de ondas que, diversamente daquelas do Genesis, voltarão! E se o Zé Ramalho tiver razão, vão voltar com tudo, derrubando homens e outros animais, arrastando multidões e coisa e tal.

 

Em entrevistas ele explicou que a música é sobre um novo dilúvio, e que a compôs para o Roberto Carlos gravar, já que o Rei era chegado em músicas com temas bíblicos. Mas o Roberto recusou, não iria cantar algo assim tão apocalíptico, sobre ondas que chegariam para acabar com tudo.

 

No fim quem se interessou foi o Fagner. Não só gravou como batizou o seu disco de 1981 com o nome da música, Eternas Ondas. E fez o maior sucesso.

 

Sofri para decidir se inseria a música com o Zé Ramalho ou com o Fagner. Ainda bem que encontrei essa versão:[3]

 

 

 

 

A música do Genesis usa a palavra ripple, mas para onda a tradução mais conhecida em inglês é mesmo wave. Wave, como todos sabem, é o nome de uma das músicas de Tom Jobim mais conhecidas e tocadas mundo afora.

 

Ouvindo Wave agora há pouco me lembrei desta passagem que li há muito tempo, é sobre um programa que passava na TV Record nos anos 60, conduzido pelo apresentador Blota Jr, chamado “Esta Noite se Improvisa”. Ele escolhia uma palavra e os participantes do programa tinham que cantar uma música contendo a dita cuja:

 

    “Fazendo suspense, Blota disparava uma palavra (‘A palavra é…’) ­e quem apertasse primeiro o botão ia ao microfone para cantar a música. Podia-se ganhar até um Gordini, uma das estrelas do parque automobilístico nacional nos anos 60. Um dos piores no programa, seguramente, era Vinícius de Moraes, que apesar de sua imensa cultura musical jamais chegava a tempo no botão. Até que um dia conseguiu. A palavra era ‘garota’ e Vinicius, radiante, começou a cantar a sua ‘Garota de Ipanema’ para ir descobrindo, pouco a pouco, com decepção de menino, que a canção não tem ‘garota’. Ficou arrasado.”[4]

 

Pois é, eu lembrei dessa história porque precisei tocar a música duas vezes para encontrar  a onda em Wave.[5]

 

 

 

 

O que é mais doido, a equação de Schrödinger, a letra psicodélica do Genesis, ou a Garota de Ipanema sem garota na letra?

 

 

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Onda

[2] Genesis, “Ripples” (Banks/Rutherford) in Live Over Europe – Disc One, 2007. Não foi permitido inserir no site do TMPT, mas se quiser você pode assistir Ripples com o próprio Genesis (muito melhor!) diretamente no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=KmSDx0nOa3w

[3] Zé Ramalho e Fagner, “Eternas Ondas” (Zé Ramalho) in Fagner e Zé Ramalho ao Vivo, 2014.

[4] Humberto Werneck in “Chico Buarque Letra e Música”, Companhia das Letras, 1989, p.76/77.

[5] Tom Jobim, “Wave” (Tom Jobim) in Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova, Vol. 1 – Antonio Carlos Jobim, 2008.