SOLITUDE

SOLITUDE

28/07/2019 9 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 28/07/2019.

 

Olá terráqueos, estamos de volta!

 

Ainda no tema do último post. Se eu disser “Neil Armstrong”, quase todo mundo saberá que se trata do homem que deu o primeiro passo na lua. Se eu mencionar o nome “Buzz Aldrin”, em menor número, mas ainda assim muitos, lembrarão que é o segundo cara daquela expedição lunar (e o mais fotografado, porque a câmera ficava com o Armstrong, e na época a praga das selfies ainda não tinha chegado). No mínimo vão lembrar que existia um segundo cara.

 

Pouquíssima gente, porém, sabe ou se lembra que naquela viagem maluca havia um terceiro astronauta chamado Michael Collins, ele foi o piloto do “Módulo de Comando”, também conhecido como Columbia.

 

A coisa funcionou mais ou menos assim: aquele foguetão que partiu da Terra foi montado para ir se desmanchando à medida que subia. Quando se aproximou da lua, dele só restavam o tal “Módulo de Comando” levando, embutido nele mesmo, o “Módulo Lunar”, chamado de Eagle como lembramos no último texto.

 

Então, chegando à órbita da lua, a Eagle se desprendeu da Columbia e seguiu com os dois astronautas rumo ao seu destino histórico. E quem ficou na Columbia?

 

Pois é: enquanto a dupla se divertia lá embaixo dando pulinhos, catando lembrancinhas, falando “ao vivo” com o presidente Nixon e fazendo fama, o esquecido Michael Collins ficou no espaço dando voltas em torno da lua, esperando a hora de resgatar seus companheiros e levá-los de volta para a Terra.

 

Foram 22 horas fazendo isto. Cada volta durava cerca de duas horas, dentro das quais, durante 47 minutos, o Michael Collins ficava sem contato nenhum de rádio, quer com o Ground Control (o pessoal da Terra), quer com seus dois companheiros de viagem que estavam brincando na lua.

 

Foi dito, na época, que “desde Adão, nenhum humano conheceu tamanha solidão como Mike Collins”.[1]

 

Solidão é tema de um montão de músicas. Geralmente tristes, mas lindas, como esta numa das melhores vozes que já tivemos por aqui:[2]

 

 

 

 

Se é para curtir um bom piano, e falar de solidão, então é obrigatório ouvir Solitude com o Duke Ellington, o Tom Jobim dos U.S.A.[3]

 

 

 

 

Adoooooro ficar sozinho, mas raramente senti solidão. E música sobre solidão não precisa ser necessariamente triste, como demonstrou o Yes em 1983 (então já desfigurado e se rendendo ao Pop):

 

 

 

Apesar de ficar mais sozinho que o Adão,  Michael Collins diz que em nenhum momento sentiu tristeza ou solidão. Curtiu bastante aquelas 22 horas e cada um dos ciclos de 47 minutos que passou, literalmente, “sozinho no mundo”. Ficou esse tempo todo cuidando da nave, revendo os procedimentos, e ainda deu uma boa dormida para estar descansado quando chegasse a hora de  “atracar” a Eagle com seus dois companheiros, operação delicada que realizou com brilho.

 

Anos depois afirmou que durante a missão nunca teve medo de morrer, mas seu maior pesadelo era a possibilidade de ter que voltar para a Terra sozinho, se algo desse errado com os colegas lá embaixo.[4]

 

Não é totalmente verdade que “ninguém lembra” do terceiro astronauta. John Craigie, um cantor e compositor famoso da música folk fez esta canção chamada, vejam só, Michael Collins, cujo refrão diz mais ou menos o seguinte:

 

“22 horas esperando no espaço. Às vezes você leva a fama, às vezes fica nos bastidores. Mas se não fosse por mim, os rapazes ainda estariam lá!”[5]

 

 

 

 

[1] “Not since Adam has any human known such solitude as Mike Collins is experiencing during this 47 minutes of each lunar revolution when he’s behind the moon with no one to talk to except his tape recorder aboard Columbia” – declaração de um membro da NASA no Controle de Solo durante a Missão.

[2] Dick Farney, “Solidão” (Tom Jobim, Alcides Fernandes) in Dick Farney Bis Bossa Nova, CD nº 2, 2004.

[3] Duke Ellington and His Orchestra, “Solitude” (D.Ellington), in Indigos, 1958.

[4] “My secret terror for the last six months has been leaving them on the Moon and returning to Earth alone. If they fail to rise from the surface, or crash back into it, I am not going to commit suicide; I am coming  home, forthwith, but I will be a marked man for life and I know it.” (in https://www.esquire.com/news-politics/a28400600/michael-collins-today-apollo-11-astronaut-moon-landing/)

[5] “22 hours hanging in the air. Sometimes you take the fame, sometimes you sit backstage. But if it weren’t for me them boys would still be there” – John Craigie in “Michael Collins” (John Craigie) in No Rain, No Rose, 2017.