FIM DE FÉRIAS

FIM DE FÉRIAS

19/01/2019 8 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 19/01/2019

 

Um grande e querido amigo assim que atendi o telefone me perguntou, no nosso primeiro contato este ano: “E aí, tem música pra volta de férias?”.

 

Decerto existem músicas para volta das férias, afinal, já está provado, Tem Música Pra Tudo. Não é difícil pensar em belas músicas enaltecendo a felicidade de voltar pra casa (Two of Us dos Beatles, por exemplo).

 

Mas a pergunta do meu amigo foi na verdade uma provocação, pois ele conhece a minha notória dificuldade em retomar as atividades após as férias. Sofro muito com isto, mas descobri que não estou sozinho:

 

“Segundo uma pesquisa realizada há alguns anos pela International Stress Management Association no Brasil, 23% dos entrevistados relatou sentir sintomas como angústia, dores musculares, insônia, ansiedade, entre outros, após voltar das férias.

Quem nunca sentiu um aperto no peito na segunda-feira de manhã depois daquelas férias maravilhosas? Ou que teve vontade de chorar quando sentou na frente do computador do escritório?” [1]

 

Para mim, portanto, música pra volta de férias dificilmente será algo doce, alegre, agradecendo o privilégio de poder viajar e retornar ao amado lar, aos queridos amigos e ao abençoado trabalho. Comigo o estado de espírito é outro:[2]

 

 

 

 

Pois é, se é pra sofrer, melhor sofrer com estilo…

 

Ainda bem que isto passa, pode demorar (muito, no meu caso), mas passa. Porém, enquanto não passa, é preciso tomar cuidado com o mau humor.

 

O pior do mau humor é que quem mais sofre com ele são as pessoas próximas, e as pessoas mais próximas, geralmente, são as que amamos. Quem leva as patadas normalmente é a esposa, é o marido, os filhos.

 

É fácil disfarçar com o vizinho, com o cliente, com o estranho. Mas junto aos “entes queridos” nos vemos no direito de extravasar, como se fosse obrigação deles suportar o nosso mau humor.

 

Então, diante daqueles com quem temos mais intimidade, é que somos mais estúpidos. São eles que, sem merecer, recebem as “palavras duras” que de uma hora para outra contaminam o ambiente e acabam com a harmonia. De repente tudo degringola, e nos surpreendemos, pois “há um segundo tudo estava em paz”!

 

Estas pessoas, as que amamos, são as que deveriam receber mais cuidado de nossa parte, mas quando estamos de mau humor fazemos exatamente o oposto.

 

No mundo ideal esse seria o momento de contar até dez e lembrar de cuidar bem do seu amor.[3]

 

 

 

 

Os psicanalistas devem ter uma explicação para este comportamento perverso, na hora do mau humor, de maltratar justamente quem menos merece (se é que alguém merece).

 

É perverso, mas também é humano, e por isso é tão comum magoar desnecessariamente quem mais amamos.

 

Nem por isso (por ser humano) é aceitável. Quando acontece, é preciso pedir desculpas.

 

Na música, ninguém pediu desculpas como Billy Eckstine:[4]

 

 

 

 

[1] site www.veja.com , coluna “Modo Avião” de Tatiana Cunha, publicado em 07/04/2017.

[2] Cartola, “Disfarça e Chora” (Cartola / Dalmo Castelo) in “Coleção Folha Raízes da MPB”, vol. 3”, 2010.

[3] Os Paralamas do Sucesso, “Cuide Bem do Seu Amor” (Herbert Vianna) in “Longo Caminho”, 2002.

[4] Billy Eckstine, “I Apologize” (Al Hoffman, Al Goodhart) in “Verve Jazz Masters vol. 22”, 1994.