XÔ!

XÔ!

02/12/2018 11 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 02/12/2018

 

“Tristeeeeeeza não tem fim, feliiiiiicidade sim”.

 

Sou obrigado a discordar do autor destes versos – ninguém menos que Vinícius de Moraes[1]. Aliás, acho que nem ele acreditava muito nisto, veja que, a rigor, a música fala muito mais sobre a felicidade (e o quanto ela costuma ser breve) do que sobre a tristeza (supostamente “infinita”):

 

 

 

 

Tristeza tem fim sim senhor, desde que você não a fique cultivando mais do que o necessário. E, como tem música pra tudo, não falta música para ajudar a sair deste estado pelo qual, de tempos em tempos, todos temos que passar.

 

Sempre se pode recorrer a “Little Wing”, de Jimi Hendrix, uma musiquinha curtinha que ele compôs e gravou em 1967, num ritmo bem mais lento do que era o seu costume, e que fala de um ser fantástico (que pode ser uma anja, uma fada, uma mulher? – ele nunca explicou, só se sabe que é do sexo feminino)[2].

 

Esta entidade feminina, que mora nas nuvens e que o autor chama de asinha (little wing) aparece quando ele está triste. Ela chega com mil sorrisos, que lhe dá de graça, e o acalma dizendo: “está tudo bem, está tudo bem, leve de mim qualquer coisa que quiser”[3].

 

 

 

 

Esta musiquinha simples, curta, sem refrão, de pouquíssimos versos que são depois seguidos do som mágico da sua legendária guitarra, acabou se tornando uma das mais populares de Jimi Hendrix, tocada em todos os seus shows (infelizmente poucos, já que ele cometeu a insolência de partir aos 27 anos de idade).

 

Inúmeros outros artistas gravaram ou tocaram Little Wing em suas apresentações: Stevie Ray Vaughan, Santana (com Joe Cocker), Sting, Pearl Jam, dentre outros. Se você procurar, vai encontrar no YouTube uma versão ao vivo do Eric Clapton com a Sheryl Crow que é simplesmente an-to-ló-gi-ca. Nessa apresentação o saxofonista David Sanborn faz um solo tão excepcional que o Clapton praticamente deixa de lado sua guitarra para ficar olhando, embasbacado, o sujeito tocar.

 

Outra música capaz de espantar qualquer tristeza é Feeling Good, mundialmente conhecida na voz, e no sentimento, da bipolar, geniosa, irascível e acima de tudo maravilhosa Nina Simone[4]:

 

 

 

 

Se você ouviu Felling Good bem alto, e mesmo assim a tristeza não foi embora, então convém procurar ajuda profissional.

 

O texto desta semana terminava por aqui, mas não resisti e inseri abaixo a apresentação antológica de que falei acima. Para quem ficou curioso, a cara de “PQP olha o que esse cara tá fazendo!” do Clapton está próxima do minuto 3:50 do filminho.

 

 

 

 

[1] “A Felicidade” (Tom Jobim, Vinícius de Moraes).

[2] Jimi Hendrix Experience , “Little Wing” (Jimi Hendrix) in “Axix: Bold as Love”, 1967.

[3] When I’m sad she comes to me / With a thousand smiles / She gives to me free / It’s alright, she says / It’s alright / Take anything you want from me / Anything 

[4] Nina Simone, “Feeling Good” (Leslie Bricusse / Anthony Newley) in “To Be Free: The Nina Simone Story – Disc 1”, 2013.