SISTER MORPHINE

SISTER MORPHINE

30/09/2018 6 Por Marcelo Pantoja

Escito em  28/09/2018

 

 

Ontem tive um probleminha de coluna, fui parar no hospital e a coisa evoluiu de tal forma que me injetaram morfina!

 

Alívio imediato, lembrei logo de Sister Morphine, música dos Stones com Marianne Faithfull[1]. Pra falar a verdade não lembrei da música propriamente dita (até porque não é tão legal assim), mas de seu título instigante. Sim, porque naquela hora a morfina foi mesmo uma irmãzinha para mim.

 

Morfina é um opióide extraído da papoila (ou papoula), uma planta da família das papaveráceas de grandes flores coloridas (dá-lhe Google!).

 

A morfina é, também, o principal componente da heroína (também chamada diamorfina), substância cujo efeito é de duas a três vezes mais forte que o da morfina.

 

E falar em heroína, claro, é falar dos grandes artistas do Jazz que esta droga matou ou ajudou a matar: Charlie Parker aos 35 anos (o médico legista lhe atribuiu 53 anos), Billie Holiday aos 44, John Coltrane aos 40 anos, Chet Baker durou (milagrosamente) até os 58. E muitos, muitos, muitos outros.

 

Aparentemente houve um tempo no mundo do Jazz em que, para ser bam-bam-bam, o sujeito tinha que ser viciado em heroína. Muitos atribuem essa “moda” a Charlie Parker, já que ele era e continua sendo o saxofonista mais admirado e respeitado que já existiu. E era também o mais notório consumidor da droga fabricada a partir da tal papoila.

 

Acho que seus colegas pensavam, “vou injetar heroína para ser igual o Charlie”. E ser igual ao Charlie era tocar deste jeito[2]:

 

 

 

 

The Bird, como era conhecido, injetava a torto e a direito, mas não atribuía a isto o seu talento. Ao contrário, em entrevistas chegou a afirmar que qualquer músico que diz que toca melhor por causa do chá, da agulha, ou porque está dopado, é um grande mentiroso.[3]

 

Outra que pode ter influenciado os colegas a aderir à droga foi Billie Holiday, a Lady Day. Afinal, se um pico de heroína te fizesse cantar assim, será que você não arriscaria?[4]

 

 

 

 

Vale a pena? O fato é que ninguém pode afirmar que estes artistas tocavam e cantavam tão bem por causa da heroína. Mas se pode afirmar, aí sim com toda certeza, que estes dois músicos extraordinários tiveram as suas vidas brutalmente encurtadas pela heroína, e que, apesar de todo o sucesso e da admiração que despertaram, morreram falidos e solitários.

 

Aos jovens que pensam em correr o risco, recomendo “Eu, Christiane F., 13 anos drogada e prostituída, tanto o filme (de 1981, trazendo de “brinde” uma participação relâmpago de David Bowie no auge) como, principalmente, o livro com o mesmo título.[5] Melhor que qualquer palestra ou livreco de autoajuda.

 

Por aqui, em terras brasileiras, a heroína não foi tão popular ente os músicos; nossos artistas morrem muito mais por causa da birita.

 

O maestro Tom Jobim, nosso músico mais admirado pelo pessoal do Jazz (suas músicas foram gravadas, dentre outros, por Stan Getz, Dizzy Gillespie, Ella Fitzgerald, Count Basie, Oscar Peterson, Sarah Vaughan), até que durou bastante (67 anos), mas poderia ter ficado muito mais não é mesmo?[6]

 

 


 

Além do Jobim, quem podia ter continuado nos brindando para muito além de seus 36 anos (!) é a sua parceirinha naquele disco histórico de 1974[7]:

 

 

 

 

[1] The Rolling Stones, “Sister Morphine” (M.Jagger, K.Richards, Marianne Faithfull) in Sticky Fingers, 1971.

[2] Charlie Parker, “Autumn in New York” (Verdun Duke), in  “Charlie Parker With Strings”, 1995.

[3] “Any musician that says he’s playing better either on tea, the needles, or when he’s juiced, is a plain straight liar”, in Coleção Folha Clássicos do Jazz – vol. 4, Carlos Calado, 2007.

[4] Billie Holiday, “Autumn in New York” (Verdun Duke), in “Coleção Folha Clássicos do Jazz”, 2007.

[5] Livro de Kai Hermann e Horst Hieck, título original “Wir Kinder vom Bahnhof Zoo”; Filme de Ulrich Edel, Alemanha.

[6] Trecho do Filme/Documentário “Vinícius”, de Miguel Faria Jr., 2005.

[7] Elis Regina e Tom Jobim, “Ãguas de Março” (Antonio Carlos Jobim), in “Elis & Tom”, 1974.