DINHEIRO PRA QUE DINHEIRO

DINHEIRO PRA QUE DINHEIRO

23/09/2018 3 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 06/05/2018

 

 

Pra que dinheiro se ela não me dá bola?,  perguntava Martinho da Vila há quatro décadas[1].

 

 

 

 

Dinheiro não traz felicidade. Dinheiro é a raiz de todo o mal[2]. Por ele se trai, por ele se mata, por ele se corrompe, por ele se faz guerra, por ele amizades se esvaem, famílias implodem. Money, get away!

 

Dinheiro não traz felicidade? Pergunte ao pai de família desempregado. Ou àquele que recebeu a visita do oficial de justiça com a ordem de despejo. O dinheiro salva, o dinheiro move o mundo, impulsiona o progresso, a ciência, a cura de doenças. Dinheiro é bom. Money, get back!

 

 

 

 

O que define se alguém é rico? Para mim, rico (sem poesia, estou falando de grana mesmo) é quem não precisa se preocupar com o dinheiro. Tem o suficiente para não fazer contas ao fechar o mês. No restaurante até dá uma olhadinha no preço, mas não deixa isto influir na escolha do prato. Espanta-se quando a mensalidade do plano de saúde dobra na mudança de faixa etária, mas logo esquece do assunto. Usa roupa de grife, troca de carro a cada três ou quatro anos, os filhos estudam em colégio de rico. Seu pior pesadelo é não conseguir manter este nível de tranquilidade(?), por isso trabalha quinze horas por dia, e durante o final de semana dispara e-mails aos seus subordinados só para adiantar. Frequentemente toma um tarja preta. Mas sabe que nas férias vai viajar para o exterior.

 

E há o outro nível, o muito rico, que ultrapassou o estágio da riqueza com tarja preta. Não se estressa com preços, boletos e bobagens que tais. Não há hipótese de perder o status ou mudar de patamar. Nem precisa trabalhar, mas é louco por índices, recordes, vive à busca de multiplicar, de encontrar o investimento certo, a aplicação mais rentável, ganhar mais e mais, só pra mostrar que entende da coisa, sabe fazer dinheiro. É o que lhe move em 100% do tempo, esteja em Paris ou no escritório. Seu pesadelo, ser superado por outro milionário do condomínio.

 

Claro, nem todos são assim, só os que eu conheço…

 

Brincadeirinha. Não tenho a experiência de ser rico, menos ainda a de ser muito rico, estou apenas elucubrando. Embora, ao longo da vida, tenha feito mais bobagens com dinheiro no bolso do que sem, gosto do vil metal tanto quanto qualquer pessoa que não seja muito hipócrita.

 

Mas tenho, sim, a impressão que dinheiro demais não traz felicidade, e pode trazer muitos problemas.

 

Pode-se fazer muita coisa boa com o dinheiro, para si, para os outros e para o mundo. O problema, então, não é o dinheiro, mas seu excesso. Ou o excesso de importância que se dá a ele.

 

Por isso, aos meus amigos, desejo que não fiquem ricos demais. Mas que não lhes falte dinheiro, pois, como diz o Paulinho, é preciso viver, e viver não é brincadeira não[3].

 

 

 

 

 

 

[1] Martinho da Vila, “Pra Que Dinheiro” (Martinho da Vila) in  “3.0 Turbinado Ao Vivo”, 1998.

[2] Pink Floyd, “Money” (R.Waters) – “… is the root of all evil today”  in “The Dark Side Of The Moon”, 1973.

[3] Paulinho da Viola, “Pecado Capital” (Paulinho da Viola) in “Acústico MTV”, 2007.