AI MEU SANTO ANTÔNIO!
Escrito em 13/06/2020.
Hoje é dia de Santo Antônio.
Não que eu seja um conhecedor do assunto, mas foi inevitável, ligo o rádio, estão falando de Santo Antônio, ligo a TV, a mesma coisa, na Internet idem. E as reportagens vão na mesma direção: comentam sobre a inviabilidade de Festas Juninas neste ano Covid e, principalmente, falam da capacidade do Santo de arranjar casamentos.
Fui pesquisar e descobri que, embora conhecido como Santo Antônio de Pádua, o danado é na verdade português. E nem Antônio ele era, seu nome de batismo é Fernando!
Tudo isto é de somenos, o que importa às moças, e às reportagens, é mesmo o poder de arrumar marido. E parece que, de fato, ele tem esta habilidade. Pesquisas mostram que o Santo geralmente traz o noivo.
Mas o Antônio-Fernando não garante a qualidade. Depois que o casal sai da igreja o problema não é mais dele:[1]
Tem Santo Pra Tudo, para proteger os olhos (Santa Luzia), os advogados (Santo Ivo), os animais (São Francisco de Assis), as domésticas (Santa Zita), os músicos (Santa Cecília), os engenheiros (Frei Galvão), os motoristas (São Cristóvão) etc etc etc. E tem aqueles de amplo espectro, como São Judas Tadeu (para as causas impossíveis) e Santo Expedito (para as causas urgentes).
O povo reza para os Santos, mas também briga com eles quando não é atendido, o que revela bem o caráter interesseiro do ser humano.
Veja que interessante este truque descrito por Luiz da Câmara Cascudo no Dicionário do Folclore Brasileiro, reproduzido no encarte do disco de 1989 do Chico Buarque:
“… Outro recurso muito eficaz, o mais eficaz de todos eles, consiste em ‘contrariar’ os santos… Em 1779 as imagens de Nossa Senhora da Conceição do Apodi e Nossa Senhora dos Impossíveis foram permutadas, vindo as duas em procissão… Caiu uma chuva tão forte que o vigário fez voltar as procissões para suas respectivas sedes… e brotou uma fonte d’água onde os dois andores defrontaram… A permuta de imagens não é privativa de rogação de chuva. Separar o santo de sua igreja, obrigando-o a fazer um milagre, é velha forma usual por onde o catolicismo mantém as formas mais doces e mais primitivas no espírito popular.”[2]
Legal, né? Mas não sei se é uma boa sacanear os santos desse jeito. Há quem diga que um dia todos eles vão se juntar e marchar em direção à Terra, vai saber se não vêm cobrar a conta…[3]
[1] Alcione e Chico Buarque, “O Casamento dos Pequenos Burgueses” (Chico Buarque) in Ópera do Malandro, 1979.
[2] Chico Buarque, “A Permuta dos Santos” (Chico Buarque, Edu Lobo) in Chico Buarque, 1989.
[3] Louis Armstrong, “When The Saints Go Marching In” (Tradicional) in Coleção Folha Clássicos do Jazz, Vol 01, 2008.
Atrasada mas em tempo, para mim o que vale mesmo é a fé.
Marcelo!
Especial o resgate da ópera do malandro!!
Sem contar a riqueza cultural da Permuta dos Santos! Nem sabia que faziam isso! Só conhecia a “simpatia” (que deveria se chamar antipatia) de pendurar Santo Antônio de ponta cabeça até aparecer um namorado.
O blog tem música pra tudo quase perde para o “Tem Santo pra tudo”.
Aliás tem três Santos que precisavam estar de plantão mas soube que tiraram férias. Estão em um pequeno país da Oceania, desfrutando das praias do Pacífico, em uma pequena ilha que não tem casos de Covid. Kiribati. Lá, Tomam drinques (não alcoólicos obviamente) e dizem que só retornarão em suas respectivas datas de celebração,
São eles: São Judas (que vc já citou – o das causas impossíveis), São Lucas (dos artistas e dos médicos) E Santa Edwiges (a dos endividados). E pior, suas datas são 28, 18 e 16 de Outubro respectivamente. Ou seja… acho que para as coisas melhorarem, só em Outubro se for assim…
Enquanto isso ficamos com o santo padroeiro dos que fazem nosso inferno em vida: Santo Thomas Morus, padroeiro dos políticos cuja data está chegando, 22 de Junho.
E no meio dessa bagunça toda descobri o único segmento social desprovido de santo padroeiro (é verdade, sem querer descobri): os eleitores. Não tem santo padroeiro dos eleitores.
Ou seja, depende de nós!
Grande abraço.! 😜
Tema Bem Interessante.
Muito Importante ter Fé e Respeitar os Santos.
Lindas Músicas.
Espero que Não Cobrem a Conta…Hahaha
impecável como sempre! Saudades…Beijos
Oi Marcelo, achei interessante você acabar com os santos, mas de uma forma poética. É legal pensarmos nas palavras santidade e sanidade, talvez buscar a santidade real nos traga a sanidade. Um abração com muitas saudades nos tempos de pandemia
Pantoja, meu amigo querido, amei o texto, as músicas, vc realmente é especial. Obrigada pela leitura gostosa de sempre.
Beijos
Helga