ENCONTRÕES

ENCONTRÕES

03/09/2023 3 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 02/09/2023.

 

    Há alguns dias tratamos daqueles encontros de várias pessoas e mostramos algumas reuniões históricas que já aconteceram, com dezenas de artistas se juntando e fazendo verdadeiras festas.[1]

 

Se você está no espírito, essas grandes reuniões podem mesmo ser muito legais: rever um monte de gente, festejar, todo mundo falando ao mesmo tempo, aquela bagunça gostosa.

 

Nesses eventos grandes a gente abraça e fala com todo mundo, mas, convenhamos, não conversa, de fato, com ninguém.

 

Já num encontro, tête-à-tête, com um amigo, a coisa é diferente. Aí o papo é mais íntimo, você realmente ouve o que é falado, presta atenção, pergunta, responde, lembra, ri, chora, fica sabendo das coisas.

 

O Aurelião tem nada menos que treze definições para o verbo encontrar, a mais legal de todas sem dúvida é a penúltima: “12.Ir ter com alguém.”[2]

 

Ir ter com alguém exige uma atenção especial, um olho-no-olho, é bem diferente de uma reunião. É algo íntimo, mais ou menos assim:[3]

 

 

 

 

Porém encontrar, diz a décima definição no Aurelião, também pode ser “10.Chocar-se, entrechocar-se; embater-se”.[4]

 

E foi mesmo um embate o encontro em Los Angeles entre o consagrado maestro e a fenomenal cantora, em 1974, para gravar um disco que ficaria para a história. Os gênios, é de se esperar, costumam ser geniosos.

 

A recepção até que foi acolhedora:

 

‘… Tom nos recebeu no aeroporto de pijama e com uma rosa na mão, de guarda-chuva sobre a garoa… Ele já foi contando que tinha duas músicas entre as trinta mais enquanto os Beatles tinham quatro. Mas eles são quatro e eu sou um, né’, analisou o maestro.”[5]

 

Acontece que a cantora tinha motivos para fincar um pé atrás. Anos antes o maestro a recusou para o papel em um musical, dizendo: “… Essa gauchinha deve estar cheirando a churrasco, não está pronta”.[6]

 

O fato é que foi marcada a gravação do disco, uns vinte dias de convivência, que inicialmente não foram nada fáceis pelo que conta o Roberto Menescal:

 

“… Eu ligava todo dia pra saber como é que o Aloísio de Oliveira estava se virando com os dois. Ele dizia todo dia: é meio difícil, mas tudo bem. Aí falei com a Elis no telefone e ela disse: ‘Está uma merda, não tem nada bom, o Tom é um babaca, um chato, reage contra os aparelhos eletrônicos, diz que vão desafinando e afinando não sei o quê, fazendo tipo, e a gravação está babaca, parecendo bossa-nova’.”

 

Mas no fim a cantora se dobrou:

 

“… E eu perguntei: ‘Mas, Elis, esse tempo todo não saiu nada?’ ‘É’, ela disse, ‘tem uma musiquinha boa’, e aí começou a se animar na conversa, e a se animar, e no fim do papo o disco estava ótimo, maravilhoso: ‘Estou louca pra chegar no Brasil e te mostrar. Todas as faixas estão lindas.’”[7]

 

Parece que ficou bonzinho mesmo:[8]

 

 

 

 

Este encontro virou um documentário que está para ser lançado, com imagens dos bastidores. Não vi e já gostei.[9]

 

Bem menos tenso foi este outro encontro, também pudera, só tinha gente bamba:[10]

 

 

 

 

Um encontro com um velho amigo é sempre bom. Mas não pode virar rotina, se não perde a graça.

 

Semana passada reencontrei meu grande e melhor amigo depois de um tempão, passamos a tarde matando a saudade e colocando os assuntos em dia.

 

Tanto tempo sem nos vermos até esse encontro, e não é que ontem à tarde nos vimos de novo? Eu atravessando a rua para comprar peixe e ele com seu carrão branco quase me atropelou. O FDP deu uma risadinha e nem parou!

 

 

 

[1] Relembre em https://temmusicapratudo.com.br/2023/08/20/dia-de-reuniao/

[2] Aurélio Buarque de Holanda Ferreira in “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 4ª. Edição, 2009, Ed. Positivo, p. 745.

[3] Luiz Melodia e Cássia Eller, “Juventude Transviada” (Luiz Melodia) in Luiz Melodia e Participações, 2014.

[4] Aurélio, idem, p. 745.

[5] Detalhes em http://www.screamyell.com.br/musicadois/elis%20e%20tom.html

[6] Detalhes em https://bravo.abril.com.br/musica/elis-regina-tom-jobim-documentario-estreia/

[7] Veja mais em  https://pt.wikipedia.org/wiki/Elis_%26_Tom#cite_ref-Furacao43_15-5

[8] Elis Regina e Tom Jobim, “Águas de Março” (Tom Jobim) in Elis & Tom, 1974.

[9] No já citado https://bravo.abril.com.br/musica/elis-regina-tom-jobim-documentario-estreia/

[10] Jair Rodrigues e Alcione, “Casa de Bamba” (Martinho da Vila) in Festa Para Um Rei Negro (DVD), 2009.