LES PUTAINS

LES PUTAINS

26/01/2020 4 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 25/01/2020.

 

 

Le Puttane, The Hookers, Las Putas, sim, é delas que vamos falar hoje.

 

O velho e bom Aurélio pela primeira vez me decepcionou; podendo utilizar mil sinônimos, escolheu um único, lacônico e pouco nobre significado para a palavra: “prostituta. [Do lat. prostituta] S.f. Meretriz”!?[1]

 

Desrespeitoso com a profissional, com a profissão em si o Aurelião chega a ser quase romântico: “prostituição. [Do lat. prostitutione] 2. Comércio habitual ou profissional do amor sexual.”[2]

 

O Amor Sexual, que expressão maravilhosa! E o latim então? Prostitutione, isto deve estar em algum cardápio do Bixiga, “penne alla prostitutione”.

 

Pesquisei bastante (não, não fui a campo), e descobri que essa pecha de ser “a mais antiga das profissões” é pura lenda. Segundo a revista Superinteressante, “… diferentemente do que diz a sabedoria popular, a primeira profissão humana foi a de cozinheiro – e não a de prostituta. É o que diz um estudo publicado pela Universidade de Harvard.”[3]

 

Pesquisa científica à parte, o fato é que elas, as putas, estão por aí há muito, muito tempo. Execradas pela sociedade, estão no imaginário de todo mundo, e não à toa são personagens de clássicos da literatura (Lucíola, de José de Alencar; A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho) e do cinema (Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo; Julia Roberts em Uma Linda Mulher). Estão também na história (Mata Hari; Dona Beja) e até na Bíblia, arrependidas.

 

E estão, claro, na música:[4]

 

 

 

 

Quando o tema vem à baila logo pensamos em moças, mas a difícil vida fácil não é exclusividade delas, como ficou registrado em um encontro histórico dos dois Bob Dylans brasileiros:[5]

 

 

 

 

Tirando uma ou outra beata invejosa, todo mundo tem um olhar de simpatia ou no mínimo de compaixão pelas prostitutas e suas aflições. Mas ninguém se solidariza com o pobre do Gigolô, este sim desprezado por todos.

 

Ninguém? Gente, tem música pra tudo!

 

 

 

 

Não resisti, gosto desta música[6], gosto do David Lee Roth / Van Halen e gosto, mais ainda, desses vídeos trash dos anos oitenta.

 

Voltando às putas, essas batalhadoras têm todo o meu respeito e solidariedade. Não fazem mal a ninguém e dão a sua contribuição para o mundo.

 

Nota dez para elas. A descendência é que é o problema.[7]

 

 

 

 

[1] Aurélio Buarque de Holanda Ferreira in “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 4ª. Edição, 2009, Ed. Positivo, p. 1645.

[2] idem

[3] in https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-e-a-profissao-mais-antiga-do-mundo/

[4] Gal Costa, “Folhetim” (Chico Buarque) in Àgua Viva, 1978.

[5] Zé Ramalho e Belchior, “Garoto de Aluguel” (Zé Ramalho) in O Grande Encontro Vol.3, 2000.

[6] David Lee Roth (na verdade é um medley com duas músicas): “”Just a Gigolo/I Ain’t Got Nobody” (Leonello Casucci, Irving Caesar/Spencer Williams, Roger A. Graham) in Crazy From The Heat, 1985.

[7] Ultraje a Rigor, “Filha da Puta” (Roger Moreira) in Acústico MTV, 2005.