MA-1615

MA-1615

14/05/2023 3 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 13/05/2023

 

    MA-1615 era a placa do carro da família no final da década de 1970, uma Caravan verde metálica, ainda aquela com as lanternas redondinhas na traseira. Não sei exatamente quando ela chegou, eu devia ter uns 9 ou 10 anos. O que lembro é que, à primeira vista, não agradou nem um pouco porque achamos pequena! Pudera, seu antecessor era um Dodge Dart.

 

De repente, sem nenhum aviso prévio, meu pai aparece com a Caravan e informa que não veríamos mais o Dojão. Foi um choque, meu pai deve ter ficado decepcionado com a nossa decepção.

 

Mas passou, logo este carro ficou marcado na memória e ganhou definitivamente o nosso coração depois da viagem épica da Família Trapo para o Rio de Janeiro, o primeiro grande teste da Caravan.

 

Três fatos marcantes dessa aventura (afora a Cidade Maravilhosa em si): 1) – Eu, no banco traseiro, vomitando em cima dos meus irmãos já na primeira hora de viagem; 2) – Meu pai sem coragem de olhar para os lados atravessando a Ponte Rio-Niterói, fez o percurso todo olhando para a frente; 3) – Meu pai P da vida, na volta, ao ser parado pelo guarda e levar uma multa (naquele ano o Governo decidiu que a velocidade máxima em todas as estradas seria de 80Km/h).

 

Bem que o Aurélio diz:

Caravana 1.Multidão de peregrinos, mercadores ou viajantes que se reúnem para atravessar o deserto com segurança.
2. Grupo de pessoas que vão juntas a algum lugar.[1]

 

Então não é só para atravessar o deserto, uma caravana pode ir para qualquer lugar. Para a Espanha, por exemplo:[2]

 

 

 

 

Outro fato histórico que tornou inesquecível a Caravan MA-1615: um determinado dia meu pai chega dirigindo, sobe a rampa da garagem e estaciona como sempre. Já do lado de fora olha para trás e vê o carro descendo a rampa de ré. Pois é, ele não puxou o freio de mão e lá se foi a nossa Caravan sozinha, sem ninguém ao volante, de início devagarinho, depois pegando velocidade, meu pai desesperado correndo atrás do carro, eu paralisado assistindo tudo com o coração na boca.

 

Resultado: o carro desceu a rampa toda, atravessou a rua e foi bater no portão da vizinha da frente. O portão era fraquinho, acabou se abrindo e a Caravan entrou dentro da garagem da D.Jandira.

 

Foi a única vítima do episódio (o portão, não a D. Jandira), mas imaginem que grande M#rd@ não podia ter dado, o carro atravessou a rua, pulou as duas calçadas!

 

Passado o desespero foi só risada, e é até hoje. Aquela cena tétrica, que começou em câmera lenta e virou um pandemônio é motivo de riso para o resto da vida.

 

Eu disse vida?

 

A vida! Segundo a música, ela é cigana, é caravana, é pedra de gelo ao sol”:[3]

 

 

 

 

Caravan é também o nome de um clássico do Duke Ellington, é a música da cena final do filme “Whiplash – Em Busca da Perfeição”, de 2014, indicado para cinco Oscars e vencedor de três, a história de um rapaz que queria ser o melhor baterista de Jazz do mundo e sofria incríveis abusos de seu instrutor. Baita filme, merece ser visto por quem acha que baterista não é músico.

 

Caravan, bateria. Viagem:[4]

 

 

 

Mãe, lembra da Caravan? Feliz Dia das Mães!

 

 

[1] Aurélio Buarque de Holanda Ferreira in “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 4ª. Edição, 2009, Ed. Positivo, p. 402.

[2] The Doors, “Spanish Caravan” (Jim Morrison, Ray Manzarek, Robby Krieger, John Densmore) in  The Best Of The Doors, Disco 1, 1985.

 [3] Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, “Caravana” (Alceu Valença, Geraldo Azevedo) in O Grande Encontro Vol. 3, 2000.

 [4] “Caravan” (Duke Ellington, I.Mills / J.Tizol), aqui tocada pela Big Band Alemã de Thilo Wolf com solos dele mesmo e dos bateristas Charly Antolini (o mais velho, ao lado do Thilo Wolf), Wolfram Kellner (com camisa do MotorHead) e Jean Paul Höchstädter (o que está no alto).