SOIS REI!

SOIS REI!

07/08/2022 7 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 07/08/2022.

 

 

Você já ouviu falar de Oscar Peterson?

 

Falecido em 2007 aos 82 anos de idade, o canadense Oscar Peterson foi um dos maiores pianistas do Jazz, segue uma pequena amostra:[1]

 

 

 

 

Este monstro do Jazz, em meados da década de 1950 deu uma canja a um adolescente um tanto quanto atrevido chamado Zezinho, de pouco mais de 15 anos. Como ele mesmo contou (o garoto, não o Oscar Peterson):

 

“Uma ocasião, em Lausanne, mamãe se hospedou num dos excelentes hotéis da cidade e eu me mudei pra lá a fim de ficar com ela. Estava no lobby certa tarde, quando ouvi um som de piano maravilhoso vindo de uma sala. Fui até lá e vi o Oscar Peterson estudando. Ele me disse que estudava oito horas por dia; no dia seguinte ao que deixasse de estudar por oito horas, haveria um pianista melhor do que ele na cena jazzística. Eu pedi se podia tocar um pouquinho com ele, Oscar achou graça. Subi ao quarto para buscar o bongô e, durante uns quinze minutos, foi como se eu estivesse em algum reino encantado. Uma emoção. Oscar foi simpaticíssimo.”[2]

 

O garoto atrevido, você deve ter adivinhado pelo “bongô”, era mesmo o Jô Soares.

 

É desnecessário ressaltar os múltiplos e incríveis talentos do Jô, pois só se fala, se mostra e se relembra isto na TV e na Internet desde que ele nos deixou na última semana. Mas é muito bom poder homenagear um gênio de verdade, numa época em que esta palavra tem sido associada a tantos personagens menores.

 

Se, como ensina o Aurélio, a palavra gênio designa um “indivíduo de extraordinária potência intelectual”, ela cabe perfeitamente ao José Eugênio Soares, nosso Jô.

 

Jô, todos sabem, era muito ligado à música. Além do bongô, tocava trompete, conhecia muito de jazz e por anos apresentou na Rádio Eldorado o programa “Jô Soares Jam Session”, onde levava os seus próprios discos raros para tocar para nós, pobres mortais.

 

Não era só jazz que ele curtia. Por exemplo, ele gostava muito de uma música de seu amigo que hoje faz inacreditáveis 80 anos. De novo vamos deixar o próprio Jô contar:

 

“… Faço questão de registrar que de todo o extenso repertório do Caetano, além de toda a fase inicial e da Tropicália, uma música sempre me comove quando a escuto: ‘Sampa’. Ninguém registrou com tal perfeição a cidade. Caetano sabe disso. Sempre que tive oportunidade, pedi a ele que a cantasse. Para mim também, o coração de São Paulo bate ali na Ipiranga com a São João, esquina que frequentei muito.”[3]

 

 

 

 

No primeiro filminho deste texto a música que o Oscar Peterson tocava era Wave, do brasileiríssimo Tom Jobim, você reparou?

 

Pois é, o Brasil tem tantos grandes nomes que nos enchem de orgulho…

 

Infelizmente, por razões que não têm absolutamente nada a ver com a arte, em determinados círculos se tornou proibido, ou até ofensivo, enaltecer alguns de nossos gênios.

 

Não é o caso aqui no Tem Música Pra Tudo. Como dizia Millôr Fernandes, ideologia é “uma bitola muito estreita para orientar o pensamento”.[4]

 

Viva Caetano Veloso! Viva Jô Soares!

 

 

 

 

[1] Oscar Peterson, “Wave” (Tom Jobim).

[2] in  O Livro de Jô, Uma Autobiografia Desautorizada” (Jô Soares e Matinas Suzuki) , Vol. 1, 2017, Companhia das Letras, p. 153.

[3] Idem, p. 353. Caetano Veloso e Gilberto Gil, “Sampa” (Caetano Veloso), in Série Grandes Nomes – Caetano Veloso, Disco 1, 1995.

[4] in https://pt.wikipedia.org/wiki/Mill%C3%B4r_Fernandes

Fotografia em destaque by Patrícia Vieira Bassani.