NEM HOME, NEM OFFICE

NEM HOME, NEM OFFICE

03/05/2020 5 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 02/05/2020.

 

 

Quase um mês sem escrever ou publicar nada por aqui. Falta de inspiração? Falta de assunto? Bloqueio criativo?

 

Nada disto, apenas não tive vontade. Não amigos, não estou down nem triste. Acho que é esta coisa de trabalhar em casa, um pouco difícil para quem não tem tanta disciplina.

 

Não que isto seja novidade, na era pré-Covid eu trazia bastante trabalho para casa, mas sabendo que no dia seguinte (ou na segunda-feira) o serviço seria retomado no escritório. Agora, trabalho em casa, e no dia seguinte estou em casa também!

 

Não estou reclamando, entendo que neste momento ficar em casa é uma obrigação. E também não é nenhum sacrifício insuportável, já tem uns bons anos que ficar em casa é um dos meus melhores programas.

 

Mas, por alguma razão, a quarentena vem atrapalhando um pouco o Tem Música Pra Tudo. Vai entender, seria de se imaginar o contrário…

 

Para mim a explicação é mesmo esta coisa de ter trazido o escritório para dentro de casa. O Tem Música Pra Tudo sempre foi um brinquedinho caseiro, doméstico. Ele é a antítese do escritório, ele sou eu anunciando para o mundo e lembrando a mim mesmo que minha vida não é meu trabalho.

 

Há quase quarenta dias a casa vem sendo o escritório e vice-versa, e às vezes não consigo estar nela, nem nele. Não estou trabalhando direito (produtividade bem abaixo da média) e também acabo não curtindo plenamente a oportunidade de estar em casa.

 

É como se eu estivesse confortavelmente entorpecido.[1]

 

 

 

 

 

O limbo em que me encontro é na verdade  resultado do confronto entre os poetas Paulinho da Viola[2] e José Régio[3], que habitam este mesmo coração.

 

 

 

 

 

 

 

[1] Pink Floyd, “Comfortably Numb” (David Gilmour/Roger Waters) in The Wall, Disc 2, 1979.

[2] Paulinho da Viola, “Timoneiro” (Paulinho da Viola/Hermínio Belo de Carvalho) in Acústico MTV, 2007.

[3] Paulo Gracindo declamando “Cântico Negro” do poeta português José Régio. Os trechos de que mais gosto: “ ’Vem por aqui’ — dizem-me alguns com os olhos doces / Estendendo-me os braços, e seguros / De que seria bom que eu os ouvisse / Quando me dizem: ‘vem por aqui!’ / Eu olho-os com olhos lassos, / (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) / E cruzo os braços, / E nunca vou por ali”   …    “Ninguém me diga: ‘vem por aqui!’ / A minha vida é um vendaval que se soltou, / É uma onda que se alevantou, / É um átomo a mais que se animou / Não sei por onde vou, / Não sei para onde vou / Sei que não vou por aí!”