POST MORTEM

POST MORTEM

02/11/2019 7 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 02/11/2019.

 

A manchete de um desses jornais distribuídos no semáforo dizia, ontem: ““Floristas esperam o dobro do movimento por conta do feriado”[1].

 

O feriado em questão é o Dia de Finados ou Dia dos Mortos, que, segundo o site Segredos do Mundo,  “é um feriado religioso, dedicado a orações e homenagens aos que já se foram. A escolha do dia 2 de novembro como a data oficial para celebrar o Dia de Finados foi feita no século 13, os responsáveis pela Igreja escolheram o dia por suceder o Dia de Todos os Santos, comemorado em 1º de novembro… No Brasil o Dia de Finados faz parte de um costume católico e consiste em visitar as sepulturas dos entes queridos que já morreram e enfeitar seus túmulos com flores.”[2]

 

Daí a alegria dos floristas. Meu respeito a estes profissionais, e também às pessoas que seguem a tradição de visitar e enfeitar os túmulos, embora este não seja um programa que me atraia.

 

Tento homenagear os meus mortos de outras formas, cada indivíduo tem seu jeito próprio de fazer isto.

 

Mas só pessoas muito especiais são capazes de algo assim:[3]

 

 

 

 

Eric Clapton compôs esta música (em parceria com Will Jennings) meses depois que seu filho Conor, aos 4 anos de idade, morreu ao cair do 53º. andar de um prédio em Nova Iorque.

 

Tears in Heaven foi lançada no final de 1991,  no ano seguinte ganhou inúmeros prêmios e foi a música “number one” nos mais diversos países. Era obrigatória nos shows de Clapton ao longo dos anos, até que em 2004 ele resolveu parar de tocá-la. Declarou, na ocasião, que não sentia mais a dor da perda, e que para tocar ele precisava se conectar com os sentimentos que tinha quando compôs a música. Disse que àquela altura não desejava que eles (os sentimentos) voltassem, e que Conor precisava descansar.[4]

 

Outro que fez uma linda canção para extravasar  seus sentimentos e homenagear o amigo morto foi George Harrison:[5]

 

 

 

 

Acho que todos vão concordar que essas músicas são maravilhosas, e que é mesmo importante lembrar e homenagear quem já se foi. Mas, como o Nelson Cavaquinho  havia ensinado há muito tempo, e o Pelé não cansa de repetir, é muito melhor ser homenageado em vida que depois de morto, não é mesmo?[6]

 

 

 

 

[1] RD – Repórter Diário de 01/11/2019.

[2] https://segredosdomundo.r7.com/dia-de-finados-o-que-significa-e-porque-e-celebrado-em-2-de-novembro/

[3] Eric Clapton, “Tears in Heaven” (Eric Clapton, Will Jennings) in MTV Unplugged, 1992.

[4] “I didn’t feel the loss anymore, which is so much a part of performing those songs. I really have to connect with the feelings that were there when I wrote them. They’re kind of gone and I really don’t want them to come back, particularly. My life is different now. They probably just need a rest and maybe I’ll introduce them for a much more detached point of view.” (in “No more Tears in Heaven for Clapton”, TODAY.com, Associated Press, 11/03/2004 – falando de ‘Tears in Heaven’ e de ‘My Fateher’s Eyes’,  uma outra música que fez para o pai). Apesar dessa declaração Clapton voltou a tocar a música, por exemplo, no show/disco Crossroads de 2013.

[5] George Harrison, “All Thoese Years Ago” (Geroge Harrison) in Let it Roll, 2009.

[6] Nelson Cavaquinho, “Quando Eu Me Chamar Saudade” (Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito), in Coleção Folha Raízes da MPB, Vol. 11, 2010.