PRIMEIRO DE ABRIL

PRIMEIRO DE ABRIL

30/03/2019 8 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 05/03/2019.

 

 

Primeiro de abril, além de aniversário de uma pessoa muito importante[1], como todos sabem é também o Dia da Mentira.

 

Se você pensa que as pegadinhas de primeiro de abril são uma coisa brasileira, saiba que a data é “comemorada” em vários países. Nos de língua inglesa a data é conhecida como “Dia dos Bobos” (April Fools’ Day); na Itália e na França, não me pergunte por quê, é o “Peixe de Abril” (pesce d’aprile e poisson d’avril, respectivamente).

 

Dia da Mentira, convenhamos, é um nome bem mais simpático. Uma mentirinha de vez em quando é quase que obrigatória. O Professor Ariano Suassuna, com toda a autoridade, ensinou que sinceridade excessiva pode ser algo muito constrangedor.

 

Duas das maiores e mais bem sucedidas bandas de que já se teve notícia são de mentira, nunca existiram.

 

O disco da Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, uma banda imaginária, vendeu mais de 30 milhões de cópias.

 

Desconhecida (até porque não existia), logo na primeira faixa do disco a banda precisou se apresentar: “We’re Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, we hope you will enjoy the show….”[2] [3]

 

 

 

 

A banda era fictícia, mas o disco foi uma revolução bem real em todos os aspectos: as inusitadas técnicas de gravação; o conceito de “álbum” (foi o primeiro a trazer as letras de todas as músicas); a capa histórica com retratos de 59 personalidades (dentre elas: O Gordo e o Magro, Freud, Jung, Marlene Dietrich, Marilyn Monroe, Fred Astaire, Bob Dylan, Marlon Brando, Albert Einstein, os Beatles!). E acima de tudo, claro, as músicas.

 

O disco foi lançado em 1967. No ano anterior os Beatles, estressadíssimos, haviam decidido que não  fariam mais shows. Depois da última turnê tiraram longas férias e retornaram com a ideia de usar um alter ego (a banda imaginária do Sargento Pimenta) para ter a liberdade de gravar um disco com músicas impossíveis de serem tocadas ao vivo.

 

E assim surgiu o disco que em 2003 foi considerado pela revista Roling Stone o primeiro entre os 500 mais importantes de todos os tempos.

 

Existem milhares de artigos, livros, teses e trabalhos acadêmicos sobre o Sgt. Pepper’s, mas o que me motivou a falar disto foi mesmo o fato de a banda ser de mentirinha.

 

Como são de mentira, também, os Sultans of Swing – nome da banda fictícia e da música que mostrou para o mundo o melhor grupo de rock de sua época, o Dire Straits[4].

 

 

 

 

A música, com uma guitarra tocada pelo inigualável Mark Knopfler de um jeito até então inusitado para o grande público (sem palheta), marcou tanto o grupo que era comum referir-se ao Dire Straits como sendo eles próprios “Os Sultões do Swing”. O que é um tanto quanto ilógico, já que o Sultans of Swing descrito na música é um conjunto amador de Jazz, com trompetes e tudo o mais, para o qual ninguém dá a mínima.

 

Quem disse que não existe mentira boa? Sgt. Pepper’s e Sultans of Swing, duas mentiras, marcaram minha vida (e a de muita gente) de uma forma extremamente positiva.

 

Mentirinhas inocentes, como as de Primeiro de Abril, não fazem mal a ninguém. Feia, imperdoável, é a mentira que fere, que magoa e prejudica o outro.

 

Que o diga Benito di Paula, arrasado ao descobrir que sua cabrocha mentia[5].

 

 

 

 

Primeiro P.S.:

Ele tinha ou não tinha razão?[6]

 

 

 

Segundo P.S.:

Como eu disse, com o Sgt. Pepper’s a intenção dos Beatles era fazer um disco com músicas impossíveis de tocar ao vivo. Parece que não deu muito certo…

 


 

[1] Oswaldo A. Pantoja, 01/04/1940.

[2] “Somos a Banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta, esperamos que você curta o show.”

[3] The Beatles, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (John Lennon, Paul McCartney) in “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, 1967.

[4] Dire Straits, “Sultans of Swing” (Mark Knopfler) in “Dire Straits”, 1978.

[5] Benito di Paula, “Retalhos de Cetim” (Benito di Paula) in “Perfil Benito Di Paula” (coletânea), 2002.

[6] Ariano Vilar Suassuna (1927 – 2014) foi um dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor brasileiro,  autor das obras Auto da Compadecida e O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, foi um preeminente defensor da cultura do Nordeste do Brasil. (Wikipédia)