LES PUTAINS
Escrito em 25/01/2020.
Le Puttane, The Hookers, Las Putas, sim, é delas que vamos falar hoje.
O velho e bom Aurélio pela primeira vez me decepcionou; podendo utilizar mil sinônimos, escolheu um único, lacônico e pouco nobre significado para a palavra: “prostituta. [Do lat. prostituta] S.f. Meretriz”!?[1]
Desrespeitoso com a profissional, com a profissão em si o Aurelião chega a ser quase romântico: “prostituição. [Do lat. prostitutione] 2. Comércio habitual ou profissional do amor sexual.”[2]
O Amor Sexual, que expressão maravilhosa! E o latim então? Prostitutione, isto deve estar em algum cardápio do Bixiga, “penne alla prostitutione”.
Pesquisei bastante (não, não fui a campo), e descobri que essa pecha de ser “a mais antiga das profissões” é pura lenda. Segundo a revista Superinteressante, “… diferentemente do que diz a sabedoria popular, a primeira profissão humana foi a de cozinheiro – e não a de prostituta. É o que diz um estudo publicado pela Universidade de Harvard.”[3]
Pesquisa científica à parte, o fato é que elas, as putas, estão por aí há muito, muito tempo. Execradas pela sociedade, estão no imaginário de todo mundo, e não à toa são personagens de clássicos da literatura (Lucíola, de José de Alencar; A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho) e do cinema (Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo; Julia Roberts em Uma Linda Mulher). Estão também na história (Mata Hari; Dona Beja) e até na Bíblia, arrependidas.
E estão, claro, na música:[4]
Quando o tema vem à baila logo pensamos em moças, mas a difícil vida fácil não é exclusividade delas, como ficou registrado em um encontro histórico dos dois Bob Dylans brasileiros:[5]
Tirando uma ou outra beata invejosa, todo mundo tem um olhar de simpatia ou no mínimo de compaixão pelas prostitutas e suas aflições. Mas ninguém se solidariza com o pobre do Gigolô, este sim desprezado por todos.
Ninguém? Gente, tem música pra tudo!
Não resisti, gosto desta música[6], gosto do David Lee Roth / Van Halen e gosto, mais ainda, desses vídeos trash dos anos oitenta.
Voltando às putas, essas batalhadoras têm todo o meu respeito e solidariedade. Não fazem mal a ninguém e dão a sua contribuição para o mundo.
Nota dez para elas. A descendência é que é o problema.[7]
[1] Aurélio Buarque de Holanda Ferreira in “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 4ª. Edição, 2009, Ed. Positivo, p. 1645.
[2] idem
[3] in https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-e-a-profissao-mais-antiga-do-mundo/
[4] Gal Costa, “Folhetim” (Chico Buarque) in Àgua Viva, 1978.
[5] Zé Ramalho e Belchior, “Garoto de Aluguel” (Zé Ramalho) in O Grande Encontro Vol.3, 2000.
[6] David Lee Roth (na verdade é um medley com duas músicas): “”Just a Gigolo/I Ain’t Got Nobody” (Leonello Casucci, Irving Caesar/Spencer Williams, Roger A. Graham) in Crazy From The Heat, 1985.
[7] Ultraje a Rigor, “Filha da Puta” (Roger Moreira) in Acústico MTV, 2005.
Penso ,que deve ser muito triste levar esse tipo de vida, mas todos tem o direito de suas escolhas.Meu respeito a essas mulheres.
Pesquisa exclusivamente bibliográfica, nada de campo, nem é preciso, pois o tema é claro e existe vasta literatura, no caso musical e vc nos deu alguns exemplares interessantes,fazendo também uma distinção entre o explorador e os explorados.
Tema inesperado, mas abordado com classe, como só poderia ser vindo de vc.
Músicas ótimas, mas a do Roger, que é muito boa tb, é de entristecer pela realidade que relata.
Como sempre termino meu domingo com um pouco mais de conhecimento e músicas legais. Bjs
O Trabalho Não é Fácil, mas de Suma Importância para a Sociedade. As Pessoas que Trabalham no Ramo…Merecem todo o Respeito. Lindas Músicas !!!