COVIDAS

COVIDAS

08/04/2020 9 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 07/04/2020.

 

 

Co, segundo o Dicio – Dicionário Online de Português – é a “forma abreviada do prefixo com-, usada para formar novos vocábulos ao se aglutinar com o elemento inicial da próxima palavra, tem o sentido de junção, união, companhia, força”.[1]

 

Para o Dicionário Aulete Digital “significa companhia, concomitância”[2]. Já o nosso velho e bom Aurélio nos lembra que Co, além de símbolo do Cobalto (!), é um prefixo de “contiguidade, companhia”.[3]

 

Ironicamente, hoje o ato mais solidário possível é afastar-se, não ficar com.

 

Então por que este nome, COVID?

 

Quem responde é a Fundação Oswaldo Cruz: Desde o início de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a chamar oficialmente a doença causada pelo novo coronavírus de Covid-19. COVID significa COrona VIrus Disease (Doença do Coronavírus), enquanto ‘19’ se refere a 2019, quando os primeiros casos em Wuhan, na China, foram divulgados publicamente pelo governo chinês no final de dezembro. A denominação é importante para evitar casos de xenofobia e preconceito, além de confusões com outras doenças”.[4]

 

Portanto esqueça, a doença não se chama COVID para dizer que estamos todos coligados e que devemos cooperar porque aquilo que você faz reflete em mim e que o meu bem-estar depende do seu bem-estar.

 

Nada obstante, o Corona/Covid vem dando muitas lições, não vou citá-las aqui porque você decerto já recebeu de todas as suas tias um milhão de mensagens sábias a respeito.

 

No meu caso específico, para além dos ensinamentos cósmicos que chegam pelo WhatsApp, o que bateu forte foi a humilhação de engolir tudo o que já praguejei nos últimos dez anos contra o uso dos smartphones para finalidades outras que não simples ligações telefônicas em casos de extrema necessidade.

 

Depois que na semana passada minha mãe, que está guardadinha a sete chaves na casa dela, sem a ajuda de ninguém conseguiu me fazer uma chamada de vídeo (!), declaro aqui, envergonhado, minha incondicional rendição ao celular.

 

A tecnologia me permitiu continuar trabalhando e me põe em contato, inclusive visual, com todo mundo. Desta forma consigo saber e, literalmente, ver que meus amigos e familiares estão bem. Tudo isto ameniza as preocupações, a saudade, e assim vamos levando um dia após o outro na expectativa de que em breve estaremos juntos novamente.[5]

 

 

 

 

O que a tecnologia não resolve é a aflição de estar tanto tempo afastado dos meus amiguinhos Marrom, Ruivinho e, especialmente, o Legal, cães que moram no Parque Central aqui de Santo André. Sei que estão sendo bem cuidados pelos Guardas que tomam conta do parque, a quem agradeço imensamente, em especial à GCM Lilian.

 

No dia 20/03, uma sexta-feira, a Prefeitura anunciou que o Parque fecharia para o público no dia seguinte, por tempo indeterminado. A manhã estava linda, corri até lá e passei um tempão com o Legal, tentei explicar o que estava acontecendo, mas não sei se ele entendeu.

 

 

Na segunda-feira seguinte iniciei o meu isolamento e desde então todas as manhãs meu primeiro pensamento do dia é o Legal. Fico imaginando o que passa naquela cabecinha, olhando o parque imenso (o seu Reino) completamente vazio, perguntando “cadê todo mundo?” e pensando, decepcionado: “Até ele me abandonou!”ele, no caso, sendo eu mesmo.

 

O mundo de ponta cabeça, milhares de pessoas morrendo ou perdendo o emprego, a economia paralisando, mendigos sem nem ter a quem mendigar, e o que mais me atormenta nesta crise COVID-19 é o Legal pensar que eu o abandonei.

 

[6]

 

 

 

 

[1] in https://www.dicio.com.br/co/

[2] in http://www.aulete.com.br/co-

[3] Aurélio Buarque de Holanda Ferreira in “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 4ª. Edição, 2009, Ed. Positivo, p. 485.

 

[4] in https://portal.fiocruz.br/pergunta/por-que-doenca-causada-pelo-novo-virus-recebeu-o-nome-de-covid-19

[5] Anita O’Day, “We’ll Be Together Again” (Carl T. Fischer, Frankie Laine) in Anita Sings The Most, 1957.

[6] Dire Straits, “So Far Away” (Mark Knopfler) in Brothers in Arms, 1985.