SHE
Escrito em 22/10/2017
Tem música pra tudo, mas o que mais tem é música pra mulher. Não falo aqui das músicas que homenageiam o gênero, a instituição – como fez Gilberto Gil com a canção cujo título, ironicamente, é Super-Homem. Falo de música pra mulher com nome próprio: Rosa, Cecília, Bárbara, Terezinha, Geni (para ficar em um por cento das músicas com nome de mulher compostas por Chico Buarque).
Há aquelas que nem é preciso citar o autor, basta o título da música-mulher e você já sai cantando: Marina, Gabriela, Dora, MariaMaria, Yolanda. E aquelas que, além do nome próprio, têm procedência, como a Ana de Amsterdã (Chico Buarque), a Joana Francesa (idem) e a Tereza da Praia, que é de Tom Jobim e Billy Blanco (ou não é de ninguém?), mas todos conhecem mesmo é nas vozes de Dick Farney e Lúcio Alves[1].
Que falar, então, das mulheres privilegiadas que ganharam mais de uma música? Exemplos: A Carolina do Chico Buarque e a Carolina do Seu Jorge. Ou a Rita, cantada pelos Beatles como Lovely Rita, e a que conhecemos como aquela que levou o sorriso do Chico Buarque. A Iracema do Adoniran Barbosa e uma menos conhecida Iracema do, de novo, Chico Buarque.
Ninguém mais privilegiada, porém, que a Luíza, cantada como mulherão, na conhecidíssima música do Tom Jobim, mas cantada também para a criança, numa composição ultradoce de Francis Hime e Chico Buarque (again) para ninar suas respectivas bebezinhas de mesmo nome, e que ficou ainda mais doce na voz e no violão do Toquinho[2].
Até aqui citei, sem precisar parar pra pensar, dezoito nomes-mulheres-músicas (sem contar as duplicadas). É covardia. Caetano Veloso não chegou nem perto de equilibrar o jogo para os homens com o Menino do Rio e o Leãozinho, que são músicas lindas mas sequer têm nome próprio. Além disto, quem ainda vai se encantar com o Menino depois que ele tiver que abandonar a prancha para enfim trabalhar? Ou com o Leãozinho, depois que seus cachos se perderem no caminho dos anos? Já uma Luíza (a mulher) é pra vida toda, afinal são sete mil amores que o autor guardou somente para dar a ela.
Sem falar nas estranjas. Para ficar só em Beatles, eles cantaram, além da já citada Rita, Julia, Lucy (in the sky), Michelle, Martha (my dear) entre outras.
Se o assunto é música pra mulher, não posso deixar de mencionar a Linda Mulher, a Pretty Woman, cheia de graça na versão original de 1964 do seu criador Roy Orbison, mas que eu gosto mesmo é na versão power do Van Halen[3].
Ou a música da Mulher Definitiva, She, do francês Aznavour, cantada pelo britânico Elvis Costello[4].
Não, não perdi o foco, sei que este artigo é sobre músicas com nome próprio, e Oh!Pretty Woman e She não têm nome de uma mulher específica.
Não têm porque não precisam, qualquer um que ouve sabe de que mulher se está falando…
A minha, claro!
[1] Lúcio Alves e Dick Farney, “Tereza da Praia” (Tom Jobim, Billy Blanco) in “Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova CD nº 2”, 2008.
[2] Toquinho, “Luiza” (Francis Hime , Chico Buarque) in “Álbum Musical” de Francis Hime, 2004.
[3] Van Halen, “Oh! Pretty Woman” (Roy Orbison, Bill Dees) in “The Best of Both Worlds, Disc 1”, 2004.
[4] Elvis Costello, “She” (Charles Aznavour, Herbert Kretzmer) in “The Very Best of Elvis Costello Disc 1”, 1999.
[…] [2] Veja em https://temmusicapratudo.com.br/2018/10/06/she/ […]
Que linda curadoria Pantoja! Músicas q tocam a alma… atemporais… a versão do Costello para She – é incrível. Amei o texto!! Leve, solto, autoral, sem viés, pieguices, convidativo!! Acho q gostei, ainda mais, por nao ter nada alem de musica, parabens!!! Virei fã
Parabéns!
Amei
Muito bacana. Sou musico e aprecio mais ainda musica com circunstancias.
Sugiro um botao no site que toca as musicas na sequencia sua ou aleatória. Parabéns
Grato pela dica e pelo comentário Edgar. E pela frase “música com circunstâncias”, poderia ser o slogan deste meu site!
Abraços,
Marcelo
❤️
Muito bom! Bem sacada a ideia de crônicas temáticas, pivotadas em músicas – continue!
A sua crônica me lembrou do Chico Buarque que mais cantou e encantou as mulheres da minha geração, mas que desencantou uma aluna que tive na faculdade de nome Geni. Ela me perguntou” Porque ele tinha feito aquela música que não homenageava, mas que atirava nela toda a agressividade dos homens”? Não sabia a resposta, mas passei a gostar um pouco menos das homenagens do Chico para nós mulheres em solidariedade às lágrimas da Geni.
Muito Bom! Parabéns pela dica! Atenciosamente, Alves Discos!