SÓ QUE NÃO
Escrito em 20/02/2019
Ouça esta música:
Uma graça, não é mesmo? Ainda mais na voz e trompete inconfundíveis do velho Louis Armstrong.
Mack The Knife[1] ou Ballad of Mack The Knife é um clássico que muitos bambambans gravaram, incluindo Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e a insuperável Anita O’Day.
Quem primeiro fez sucesso com esta canção foi um cara chamado Bobby Darin, em 1954, mas a música é muito mais antiga, fazia parte da peça aqui conhecida como Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht, que estreou em Berlim em 1928.
Quem ouve e assiste esta interpretação de Louis Armstrong, deliciosa, leve, sorridente, dificilmente se dá conta de que o cantor está contando a história de um assassino, um ladrão sem escrúpulos chamado Macheath (que é o personagem central da peça).
Isto na letra que ficou conhecida em inglês (esta do filminho, de autoria de Marc Blitzstein). Na letra original em alemão, do próprio Bertolt Brecht, além de ladrão e assassino Macheath é descrito como estuprador e incendiário, tendo colocado fogo em sete criancinhas.
Ouça esta outra:
Esta não tem pegadinha, a letra de I Have But One Heart[2] é doce como a música, uma declaração de amor feita por um cara apaixonado.
O detalhe, aqui, é que enquanto ela é cantada pelo personagem Johnny Fontane (interpretado pelo próprio Al Martino) na festa de casamento ao ar livre da filha do Poderoso Chefão, Marlon Brando, o Don Corleone, está dentro da casa ordenando, a pedido de alguns de seus convidados, uma série de assassinatos, surras e vendettas.
E quem, sendo humano, consegue ficar parado ouvindo a nossa Asa Branca[3], que todo mundo conhece, acompanha com o pé e canta junto sorrindo na maior alegria?
Puta música triste! O cara perdeu tudo, seu cavalo morreu de sede, ele teve que abandonar a Rosinha!
E no entanto, você viu o filminho, todo mundo cantando feliz e batendo palmas…
..[4]
[1] Louis Armstrong, “Mack The Knife” (Marc Blitzstein / Bertold Brecht / Kurt Weill) in “Coleção Folha Clásicos do Jazz, Vol. 3”, 2008.
[2] Al Martino, “I Have But One Heart” (Johnny Farrow/ Marty Symes) in “The Godfather – Soundtrack”, 1972.
[3] Luiz Gonzaga, “Asa Branca” (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira) in “Coleção Folha Raízes da MPB, Vol. 10”, 2010.
[4] Elis Regina, “As Aparências Enganam” (Tunai/Sérgio Natueza) in “Elis, Essa Mulher”, 1979.
Música Boa é assim, faz a Gente Dançar quando se está Feliz e Ajuda a Gente Esquecer quando se está Triste. Vamos Recordar e Celebrar os Momentos com Música de Boa Qualidade. Pois, Ajuda Muito a Viver Mais e Melhor !!!
Realmente as aparências enganam!
A musica tem a magia de misturar a alegria com a tristeza sem que nos demos conta.
Adorei !
Muito linda a foto que você colocou.
Como sempre, muito legal. Como a música nos deixa levar pelo ritmo e interpretação., e muitas vezes, como vc destaca nessa crônica, pode nos deixar feliz, triste ou contemplativos, independentemente da “ história” cantada.
Grande abraço!
Oi Marcelo, muitas vezes falamos, cantamos, escrevemos o contrário do que estamos sentindo. Às vezes é consciente, quase sempre não. As aparências costumam nos confundir, daí o preconceito, racismo e percepções falhas. Uma canção além da letra tem a música e aí que opera o nosso instinto. Seus exemplos foram didáticos, não importa a letra e sim o ritmo para nos enganar.
Bom dia filho, adoro suas crônicas, leio várias vezes, ouvindo as músicas e acabo sempre emocionada , de ter um filho com tanta sensibilidade.Te amo.