A VOLTA DA CENSURA
Escrito em 20/03/2020.
Censura, todos sabem, é “a desaprovação e consequente remoção da circulação pública de informação, visando à proteção dos interesses de um estado, organização ou indivíduo”.[1]
Ditadores adoram a censura, que não a toa imperou por aqui no Estado Novo de Getúlio Vargas (1937/1945) e durante o longo regime militar (1964/1985).
As artes em geral, e particularmente a música, sofreram bastante com isto. Nessas épocas sombrias qualquer expressão que, mesmo remotamente, pudesse ser interpretada como crítica ao regime, ou como ofensa aos “bons costumes”, era suficiente para o “censor” vetar a divulgação da música.
São inúmeros os casos, alguns deles bem pitorescos, não vou citar aqui porque o tema deste texto é o presente e não o passado. Mas não resisto a mencionar um caso específico que eu não conhecia e me surpreendeu: em 1973, uma censora chamada Eugênia Costa Rodrigues vetou a inocente “Tiro ao Álvaro” do Adoniran. O motivo, acreditem, foi “falta de gosto”![2]
Ainda bem, tudo isto passou, desde 1988 a nossa Constituição proíbe todo e qualquer tipo de censura.[3]
Porém, a própria Constituição prevê uma única exceção, que é a hipótese de estado de sítio decretado, por exemplo, numa situação de guerra. Neste caso é admissível a “remoção” de certas Garantias Constitucionais (CF, artigos 137 a 139).
Assim é que, por conta da terrível guerra contra o Covid-19, acaba de ser constitucionalmente censurada esta velha canção:[4]
Esta também, e por duplo fundamento:[5]
E esta, por incitação ao suicídio (preste atenção na última estrofe):[6]
Está proibidíssima, também:[7]
Pois é meus amigos, essas preciosidades vocês só vão ouvir aqui no Tem Música Pra Tudo, este subversivo. Aproveitem enquanto não tiram do ar.
P.S.: E a tal da Eugênia, hein? Mas que FDP, falta de gosto?[8]
[1] in https://pt.wikipedia.org/wiki/Censura
[2] in http://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2019/04/03/musicas-censuradas-ditadura-militar/
[3] CF, art. 220 , §2º. É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
[4] Elvis Presley, “Kiss Me Quick” (Duc Pomus, Mort Shuman) in Elvis Disco de Ouro, 1977.
[5] Belchior, “Medo de Avião”(Belchior) in Minha História, 1994.
[6] Rita Lee, “Doce Vampiro” (Rita Lee) in Acústico MTV, 1998.
[7] Smokey Robinson, “Cruisin” (William Smokey Robinson Jr, Marvin Tarplin) in Smokey Robinson And Friends, 2014.
[8] Elis Regina e Adoniran Barbosa, “Tiro Ao Álvaro” (Adoniran Barbosa, Oswaldo Moles) in Coleção Folha Raízes da MPB, Vol. 7, 2010.
Não precisa existir censura aonde existe respeito!
Oi Marcelo, de modo geral somos um povo afetuoso que gosta de beijar ,abraçar o que é censurado neste momento ,mas a gentileza que devemos ter com os que estão confinados ao nosso lado não está censurada ,pelo contrário é absolutamente necessária nesses tempos virulentos, um forte abraço
Como Sempre…Músicas Maravilhosas !!!
Espero que a Censura Nunca mais volte ao Nosso Querido Brasil !!!
Mas, Precisamos de Líderes Honestos e Competentes. E Não de Politicagem…
Que legal sua sacada. Só espero que esse período de censura aos beijos, abraços, e tudo o mais que gostamos de trocar com quem gostamos e amamos seja muito breve. Beijo… ops