PERCEPÇÕES

PERCEPÇÕES

02/11/2024 4 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 01/11/2024.

 

 

Futebol, final de campeonato, um pênalti.

 

O batedor chuta, o goleiro defende.

 

Invariavelmente: Se seu time é o do goleiro, vai dizer: “Puta defesa, é gênio!”. Se seu time é o do batedor, sua fala é: “PQP, como chutou mal!”.

 

O mesmo lance, duas percepções totalmente diferentes. Percepções, não opiniões.

 

É assim mesmo, duas pessoas podem assistir à mesma cena, ao mesmo fato, e enxergar (perceber) coisas totalmente diferentes. Por isso os advogados odeiam depender de testemunhas, chamam a prova testemunhal de “a prostituta das provas”.

 

Perceber: Formar ideia de; abranger com a inteligência; entender, compreender.[1]

 

“As Portas da Percepção”[2] é o título de um livro autobiográfico do inglês Aldous Huxley, lançado em 1954, em que ele conta suas experiências com a mescalina, uma droga altamente alucinógena extraída do cáctus, aquela plantinha do deserto que a gente vê nos filmes.

 

O título do livro vem de um poema de William Blake, um poeta inglês das antigas (1757-1827), que diz: “Se as portas da percepção estivessem livres, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito.”[3]

 

William Blake inspirou o título do livro do Aldous Huxley, e o livro foi a inspiração para o nome da banda que eu gosto tanto, THE DOORS (“As Portas”), do alucinado Jim Morrison, nesta música atravessando para o outro lado (da Porta?):[4]

 

 

 

 

Abrir as Portas da Percepção é tentador, mas perigoso também, que o digam os “Jotas” (Jim Morrison dos Doors, Janis Joplin e Jimmy Hendrix), todos mortos aos 27 anos de idade por abuso de álcool e drogas (assim como Brian Jones dos Rolling Stones e Amy Winehouse, com os mesmos 27 anos –  que bom que eu passei dessa fase!).[5]

 

O livro mais famoso do Aldous Huxley não foi aquele que inspirou os “Doors”. O grande livro dele foi “Admirável Mundo Novo”, escrito em 1932, retratando a sociedade no ano de 2540.

 

Nesse Admirável Mundo Novo de 2540 as pessoas consomem uma droga chamada Soma que é distribuída gratuitamente pelo governo. Todos pensam igual (têm as mesmas percepções), gostam das mesmas coisas, têm as mesmas opiniões e são absurdamente felizes.

 

Como no Instagram.

 

Admirável Mundo Novo, assim como “1984” de George Orwell[6], é um daqueles livros proféticos que impressionam por prever com tanta antecedência as grandes m#rd@s que nós faríamos décadas depois.

 

E foi este mesmo livro/título que inspirou a icônica música que todos conhecem, o Admirável GADO Novo do Zé Ramalho.[7]

 

 

 

William Blake, que depois de um século inspirou Aldous Huxley, que inspirou os Doors e veio parar dentro da cabeça de um paraibano genial. O Mundo é mesmo admirável.

 

 

[1] Aurélio Buarque de Holanda Ferreira in “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 4ª. Edição, 2009, Ed. Positivo, p. 1534.

[2] “The Doors of Perception” no original.

[3] No original: “”If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, Infinite.”

[4] The Doors, “Break On Through” (Jim Morrison, Ray Manzarek, Robie Krieger, John Densmore) in The Best of The Doors, Disco 1, 1985.

[5] Veja mais em https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/almanaque/clube-dos-27-7-estrelas-da-musica-que-nos-deixaram-cedo-demais.phtml

[6] 1984, de George Orwell, escrito em 1949.

[7] Zé Ramalho, “Admirável Gado Novo” (Zé Ramalho) in Zé Ramalho Ao Vivo, 2005.