SEM VERGONHA

SEM VERGONHA

18/08/2024 3 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 18/08/2024.

 

 

Clichê quase sempre tem um sentido pejorativo, quando nos referimos a um clichê geralmente falamos de algo muito batido, um “lugar-comum, chavão”, a “repetição viciosa de uma fórmula”[1], uma espécie de preguiça intelectual.

 

Costuma ser isto mesmo, quando se recorre a um clichê se está renunciando à originalidade.

 

Mas o que transforma algo, uma expressão, uma frase, uma música, em um clichê? Não será mesmo a sua originalidade, a sua boa qualidade, a ponto de tornar-se uma referência, um padrão, uma coisa que automaticamente se associa a uma ideia ou sentimento?

 

Há algumas semanas, durante um jogo de vôlei de praia nas Olimpíadas houve um início de briga, um bate-boca entre as adversárias, o clima esquentou e o “DJ” do evento teve a sacada de tocar, no auge da discussão, esta música, e nos primeiros acordes todo mundo começou a rir:[2]

 

 

 

De imediato todos entenderam a mensagem. Mesmo quem não entendia a língua sabia o que o DJ estava pedindo: Paz, é claro.

 

Ele usou um clichê, a música Imagine, para pedir paz. Não fez nenhum discurso, só tocou uma música, e que música, não é mesmo?

 

Domingo passado, vendo nas redes sociais zilhões de postagens de fotos das pessoas com seus respectivos pais, com frases os homenageando (clichês?), minha mulher comentou: “É bom ter pai, né?”. E eu, que assim como ela fiquei sem pai há um tempão, respondi: “Ô”.

 

É muito fácil se render a um clichê, demonstrar emoção, sensibilidade, sorrir, gostar e mostrar que gostou, quando o clichê (o chavão, o lugar-comum) provém de um ser consagrado, um Beatle, um John Lennon, um cara que os intelectuais e os “entendidos” respeitam.

 

E quando o clichê é este?[3]

 

 

 

 

[1] Veja em Veja, Sérgio Roddrigues: https://veja.abril.com.br/coluna/sobre-palavras/o-cliche-nasceu-na-grafica-e-8230-acabou-no-iraja

[2] John Lennon, “Imagine” (John Lennon) in Lennon Legend, The Very Best Of John Lennon, 1997.

[3] Fábio Jr., “Pai” (Fábio Jr.) in Fábio Jr Ao Vivo, 2003.