TEBOGO

TEBOGO

11/08/2024 7 Por Marcelo Pantoja

Escrito em 10/08/2024.

 

Tá acabando…

 

Começou dia 26/07, foram só dezesseis dias, e mais amanhã, já sem quase nada para acontecer a não ser mais uma daquelas cerimônias que no começo você diz “uau!”  e 15 minutos depois “será que ainda falta muito?”.

 

Mas, antes da cerimônia de encerramento, é tudo muito legal. Todo dia, quase o dia inteiro, tem coisas legais para ver na TV. Ficamos especialistas em judô, tiro ao alvo, ginástica artística, tênis de mesa, levantamento de peso, wrestling(?), badminton, surf.

 

E a intimidade? Rebeca, Medina, Isaquias, Rayssa, são nomes já famosos. Mas de um dia para o outro falamos como se fôssemos amigos desde criancinhas da Bia[1], da outra Bia[2], do Hugo[3], do Caio[4], do Piu[5] da Flavinha[6].

 

Tudo isto para esquecê-los logo em seguida. Ou por acaso você se lembra que a primeira medalha que ganhamos em Paris foi de um judoca chamado Wilian[7]? E, logo em seguida, veio outra de uma menina chamada Larissa[8]? Já esqueceu? Pô, não faz nem duas semanas!

 

Tem razão o atleta que, perguntado sobre como se sentia com tanta badalação pelo seu resultado, respondeu: “Daqui a um mês ninguém lembra da gente”.[9]

 

Pois é, se no mês que vem esbarrar com algum desses para quem torci tanto, é bem capaz de eu perguntar[10]:

 

 

 

 

 

Eu fico louco durante as Olimpíadas, desde a madrugada assisto tudo o que posso, com um prazer especial pelos esportes mais esquisitos. Este ano teve Escalada, uma coisa doida, pareciam lagartixas apostando corrida parede acima!

 

E o levantamento de peso? Fico hipnotizado, assisto gemendo, meu joelho (com condromalácia) grita quando o atleta agacha segurando 150Kg, e minha hérnia de disco explode quando abruptamente ele se levanta com todo aquele peso nas costas.

 

Tem também as provas relâmpago: o sujeito treina por quatro anos, entra no estádio e queima a largada! Ou dá dois saltos, não vence o sarrafo, e volta pra casa. Feliz!

 

Torço sempre para os mais pobrinhos e desconhecidos. Vibrei quando a moça de Santa Lúcia[11], um país(!) de que eu nunca tinha ouvido falar, venceu os 100m rasos. E dei um grito quando o Tebogo[12], atleta de Botsuana, venceu os 200m rasos deixando três norte-americanos para trás, com língua de fora. Depois de passar pela linha de chegada ele arrancou da camiseta aquele papel com o nome e exibiu para as câmeras (e para o mundo), como dizendo: “Meu nome é Tebogo, seus bostas!”.

 

Ai, ai. Não sei como vai ser segunda-feira, acordar, ligar a TV e não assistir a uma prova de tiro com arco. Ou um gordão arremessando o martelo.

 

Já estou deprimido, chorando em francês[13].

 

 

 

 

Vibrei quando o brasileiro Luiz Maurício[14] se classificou para as finais do lançamento de dardo. Acabou em 11º. lugar. Se acha pouco, me aponte algo que você faz tão bem, mas tão bem, que só dez pessoas NO MUNDO fazem melhor.

 

 

 

 

[1] Beatriz Souza, medalha de ouro no judô.

[2] Beatriz Ferreira, medalha de bronze no boxe.

[3] Hugo Calderano, tênis de mesa, caiu nas quartas de final.

[4] Caio Bonfim, medalha de prata na marcha atlética.

[5] Alison dos Santos, bronze nos 400m com barreiras.

[6] Flávia Saraiva, medalha de bronze na ginástica por equipes.

[7] Wilian Lima, medalha de prata no judô.

[8] Larissa Pimenta, medalha de bronze no judô.

[9] Irônica e tristemente, não lembro quem era o atleta, só lembro da frase dele!

[10] The Who, “Who Are You?” (Pete Townshend) in Who Are You, 1978.

[11] Julian Alfred, natural de Santa Lúcia, um país insular do Caribe, América do Norte, com 180 mil habitantes e 617km2 de área.

[12] Letsile Tebogo, de Botsuana, medalha de ouro nos 200m rasos.

[13] Nina Simone, “Ne Me Quite Pas” (Jacques Brel) in To Be Free – The Nina Simone Story, Disc 1, 2013.

[14] Luiz Maurício da Silva, 11º. Lugar DO MUNDO no arremesso de dardo.