VOU SAIR PELADO
Escrito em 23/05/2020.
Sessenta dias em quarentena, trabalhando em casa, neste período saí rapidamente umas cinco ou seis vezes se tanto, para comprar alguma coisa no supermercado ou buscar algo no escritório. Nem mesmo nessas poucas saidinhas precisei usar calça comprida, são sessenta dias de shorts ou bermuda (na melhor das hipóteses).
Estou aproveitando para usar minhas roupas proibidas, como a camisa vintage da seleção da União Soviética, vermelha com as emblemáticas letras CCCP estampadas no meio do peito.
Adoro essa camisa, mas há alguns anos precisei aposentá-la porque o seu uso passou a ser visto como um gesto político! Então, ou eu era abraçado por militantes de um determinado grupo (com o qual não me identifico), ou era xingado por um pessoal de verde e amarelo que acha que é mais brasileiro que eu. Aliás, por causa desta turma raivosa (com a qual também não me identifico) aposentei minhas camisas da seleção brasileira.
Quando vestia aquela camisa vermelha eu não tinha intenção de difundir o comunismo, nem de afrontar a pátria. Vestia porque é linda, porque sou amante do futebol e porque ela me remete ao jogo duríssimo de estreia da nossa seleção em 1982 – a melhor da minha história – que vencemos de virada depois de um frango do Waldir Perez, com um golaço do Dr. Sócrates e outro mais sensacional ainda do Éder aos 44 minutos do segundo tempo, após um corta-luz do Falcão. O excelente goleiro soviético Dassaiev não viu nem a cor da bola.
Mas vai explicar tudo isto para essas turmas, seja a do vermelho, seja a do verde-amarelo…
Também tenho aproveitado para usar, escondidinho aqui em casa, as camisas do meu Palestra – o que é sempre um risco na rua, onde muita gente já apanhou, ou até morreu, simplesmente porque torcia por um time de futebol.
Como eu ia dizendo, desaprendi a usar calças. Embora tenha feito isto quase que diariamente nos últimos trinta anos, provavelmente não sei mais dar nó em gravata.
Estou preocupado. Quando acabar a quarentena, que roupa eu vou usar?[1]
É triste ter de abrir mão de usar uma camiseta desta ou daquela cor para evitar constrangimentos. Se é verdade que o arco-íris tem só sete cores, estou ficando sem opções.
O que é uma pena, pois gosto de todas elas.[2]
Voltando ao Noel, vou perguntar de novo, mas agora só com instrumentos:[3]
As camisas que não uso mais em público:
[1] Noel Rosa, “Com Que Roupa?” (Noel Rosa) in Coleção Folha Raízes da MPB, Vol. 1 – Noel Rosa, 2010.
[2] The Rolling Stones, “She’s A Rainbow” (Mick Jagger, Keith Richards) in Forty Licks, Disc 1, 2002.
[3] Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, com solo de Carlos Malta.
Tanto tempo confinados, que na hora que por algum motivo somos obrigados a sair, nos perguntamos “com que roupa eu vou”?
E mesmo não concordando nos submetemos a algumas regras, primeiro para nos protegermos, segundo para não causar confusão, nosso mundo onde as pessoas complicam a vida.
Noel Rosa orquestrado é maravilhoso!
Excelentes escolhas!
Amei a Sinfônica!
E Essa da copa foi preciosa. Me pergunto onde foi parar aquilo. Não só o futebol. Aquele ambiente que proporcionou aquilo. Não sei como foi que sumiu assim, na frente de todo mundo, Talvez tenha sido o buraco na camada de ozônio… Ou o aquecimento global, Não havia ainda os transgênicos.
Mas, como diria Belchior, “ No presente, a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais…”
Então o melhor mesmo é deixar pra lá e colocar tua “Velha roupa colorida”. E “meter um pé na estrada like a Rolling Stone”
😉
Grande grande abraço!
Love 🙏🏼
Grandes Lembranças !!!
Nobel Rosa é Tudo de Bom.
A Copa de 1982 era para ser o Máximo para o Brasil depois do Mundial Ganho em 1970. A Seleção Brasileira Encantava !!! Me Lembro Bem do Jogo contra a Itália (Azzurra) em 05/07, Trabalhava na Dow Química na Cidade do Guarujá, como Engenheiro de Processos. Os Trabalhos Administrativos foram Paralisados para que os Colaboradores pudessem Assistir ao Jogo contra a Itália. Instalaram um Telão na Sala de Treinamento, mas ao Final da Partida estávamos Todos Perplexos com o Resultado e com o Paolo Rossi…
Luciano do Valle, na minha Opinião foi o Melhor Narrador de Futebol e Fórmula Indy que Assisti.
SENSACIONAL!!!!
Com que roupa eu vou ???
Pergunta recorrente no mundo feminino… 😉😊
Sempre se superando…. mas confesso que de primeira não entendi o clipe da partida, ( só para mostrar as lindas camisetas?…) mas ouvir a narração do Luciano do Valle foi música para mim. Além de me emocionar com a lembrança dessa copa.
Muito legal!!! Bjs
Sim, a intenção foi essa mesmo! Bjs
Oi Marcelo, a confusão entre o escritório, consultório é grande, é como diz o Noel Rosa :”com que roupa que eu vou” , isto é , qual a atitude que eu vou vestir . Em casa a roupa/atitude é a mais confortável possivel e no escritório, consultório é menos confortável ; o problema é que para valorizar algo precisamos sentir um pouco a sua falta, um grande abraço palmeirense