URUBU APAIXONADO
Escrito em 20/05/2018
No parque perto de casa há muitos anos vive uma ave linda, branca, é uma espécie de garça eu acho, nunca fui atrás para saber que bicho é aquele, pois desde o início a chamei de GAB, Grande Ave Branca. Na verdade são duas GABs, ou talvez três: é que no parque existem dois lagos grandes, e mais dois ou três laguinhos, e passando por qualquer deles sempre há chance de ver uma GAB, mas nunca se veem duas GABs no mesmo lago. Então você fica se perguntando se a GAB que viu no terceiro lago é a mesma que estava no primeiro. Coisa de louco.
A GAB costuma fazer voos rasantes de uma borda do lago à outra, suas asas abertas a fazem dobrar de tamanho, é um espetáculo. Até para o mais insensível dos seres humanos é impossível ficar indiferente ao voo de um pássaro.
Associar pássaro à ideia de liberdade é algo automático, inevitável. Bem, se você acha isto um clichê, que seja então. Mas é um clichê nobre, especial, tanto que existem nada menos que duas músicas ma-ra-vi-lho-sas intituladas Free As A Bird que me acompanham faz muito tempo. Você não precisa conhecer a letra para mergulhar numa sensação enorme de liberdade ao ouvir tanto uma quanto outra.
Free As A Bird do Supertramp[1] foi escrita por Rick Davies em 1987, quando o outro astro do grupo, Roger Hodgson, já havia deixado a banda. A letra fala de sentir-se livre como um pássaro depois de um rompimento (o rompimento entre Rick e Roger?).
No sentido oposto, a outra Free As A Bird adveio de um reencontro, foi gravada em 1994 pelos… Beatles![2] Isto mesmo: a música inacabada de John Lennon estava gravada em uma fita que a viúva, excepcionalmente, liberou para que os outros Beatles (com a ajuda de milagrosos engenheiros de som) terminassem o trabalho. E assim, em 1995, vinte e cinco anos depois do fim da banda e quinze anos depois da morte de John Lennon, os Beatles lançaram a música acompanhada de um videoclipe cheio de referências à história dos FabFour. Fantástico.
A letra (de John) pergunta: será que realmente podemos viver separados? parecia tão bom, sempre me fez sentir… livre como um pássaro.[3]
As duas Free As A Bird são sensacionais. Não resisti a comentar um pouquinho a história e a letra de uma e outra, mas, como eu disse, basta ouvir a música, o som, para sentir a libertação, o voo do pássaro.
Foi a GAB, hoje à tarde, que me fez lembrar dessas músicas, mas podia ter sido qualquer outro pássaro. Podia ser, até mesmo, o urubu que mora no telhado do prédio atrás do meu. Assisto este espetáculo quase todos os dias e acreditem, voando, até o urubu é lindo.
Coitado do urubu, alvo de tanto preconceito, poucos sabem que este pássaro tão mal visto protagonizou a mais incrível de todas as histórias de amor, como revelou o Premeditando o Breque no seu disco de 1983[4].
[1] Supertramp, “Free as a Bird” (Richard Davies) in “Free as a Bird”, 1987.
[2] Beatles, “Free as a Bird” (Lennon, McCartney, Harrison, Ringo) in “Anthology 1”, 1995.
[3] Can we really live without each other? / Where did we lose the touch / That seemed to mean so much / It always made me feel so/ Free as a Bird.
[4] Premeditando o Breque, “Paixão nas Alturas” (Wandi) in “Quase Lindo”, 1983.
[…] [4] in https://temmusicapratudo.com.br/2018/09/23/urubu-apaixonado/ […]
Me lembro deste seu primeiro post, essa dos Beatles é daquelas de se colocar a paz dentro coração. Na verdade não compreendi àquela época que o “Têm Música Pra Tudo” seria o que é de fato.
Acordar aos domingos e escutar as músicas que fizeram parte de fases da minha vida, muitas delas sem escutar há anos, e com suas pitadas poéticas, é sensacional. Parabéns!
Gostei muito da sua crônica… vou passar sempre por aqui….
Bjud
Lindo 🕊🕊🕊 Parabéns 🌹🌹🌹 Sucesso 🎊🎉🎊
Lindo e Poético!!!
Parabéns!!!! 😍